A gente também se cansa de ser usado

Não sou obrigado a concordar com aquilo que não condiz com o meu modo de pensar, só para agradar os outros. Tenho sonhos próprios, sentimentos únicos, vontades minhas, ninguém me conhece melhor do que eu.

Não sou obrigado a engolir a seco quando elevam a voz sem razão, quando me sinto ofendido na minha dignidade, quando me agridem deliberadamente. O outro só saberá até onde pode avançar sobre mim, caso eu esclareça os limites de minha paciência.

Não sou obrigado a insistir num relacionamento fracassado, por medo de desistir, de recomeçar, de me dar novas chances de ser feliz. As minhas desistências são corajosas, são pensadas, repensadas, exigem tempo e muitas lágrimas. Manter-me preso a um vazio de dois que só machuca, por conta do medo dos olhares opressores de quem não mora comigo, é uma das piores atitudes que eu posso tomar.

Não sou obrigado a fingir que gosto de quem não me faz bem, de quem não acrescenta, não soma, não faz nada. Não distribuo sorrisos amarelos a gente falsa, hipócrita, interesseira e covarde. Manter-me a uma distância segura de tudo e de todos que os exalam negatividade só poderá me tornar mais feliz e satisfeito.

Não sou obrigado a viver de acordo com o que os outros esperam que eu seja, a me vestir de acordo com o que as vitrines vendem, a ouvir o que as rádios me empurram. Não me sujeito a padrões arcaicos que só fazem achatar tudo aquilo que vibra o meu coração. Sou alguém que sente, ama e odeia conforme o ritmo da minha essência, do que clama o meu íntimo, tão meu, tão necessário, tão vivo dentro de mim.

Não sou obrigado a chorar escondido quando a tristeza toma conta de mim, só porque os outros podem me achar uma pessoa fraca. A minha força vem exatamente da dor, o meu fortalecimento surge exatamente das minhas tempestades emocionais, até que o vazio dê lugar à vontade de recomeçar.

Não sou obrigado a aceitar tudo o que me acontece de ruim com resignação, não sou obrigado a conter a minha revolta, acumulando frustrações enquanto castigo o meu corpo e a minha sanidade mental. Tenho o direito de contradizer, de me defender, de gritar a minha dor, para que me reequilibre e siga em frente, livre do que passou.

Desde que eu não fira o direito do outro, desde que eu não passe por cima de ninguém, tenho o direito de me desviar de tudo e de todos os que emperram o meu caminho. Tenho o direito de ignorar o que não me cabe, ficando junto a quem me ajuda a ser melhor e me faz sentir bem, a quem me traz luz, a quem me aceita tal como sou, com inteireza e um sorriso sincero. A única coisa a que sou obrigado é a ser feliz.

Texto de Marcel Camargo

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