Apaixona-te por um homem que cozinha.

Sou um zero à esquerda na arte da cozinha. No máximo, brinco com uns doces, um frango assado, um arroz de emergência. Haja sal, açúcar e outros temperos não tão saudáveis quanto deveriam ser. Talvez, por isso, eu me encante tanto com alguém que cozinha para ti.

Cozinhar é tecer com delicadeza um pedido para outra pessoa saborear a tua pele, é como um beijo regado a molhos e aromas, daqueles marcantes. Alguém cozinha, tu levas o vinho, e discutem se o som da sala está bom enquanto tudo acontece na cozinha. Cozinhar é desnudar a alma e dizer para alguém tudo aquilo que nós gostamos de escutar, tudo o que nós gostamos de ler, tudo o que nós aprendemos por aí. Mostra um pouco da nossa personalidade.

Cozinhar possui um charme que eu sempre achei emocionante. Requer afeto e dedicação, requer que a gente realmente queira agradar o paladar de alguém para lidar com os ingredientes, as temperaturas, as horas certas de agir e finalizar os pratos. A escolha do menu é um salto no escuro de quem quer surpreender ou de quem já nos conhece como conhece o ponto do molho. Para aqueles que põem a mesa com um sorriso no rosto e nos convidam a adentrar a sua intimidade, talheres são completamente desnecessários: comemos com as mãos, com os olhos, com os lábios, com todas as partes do corpo. Cozinhar é mais íntimo que tirar as roupas na frente de alguém.

Acho que o ato de se dedicar a fazer algo com as próprias mãos, tendo talento ou não, para agradar alguém que a gente gosta é o que me chama mais a atenção. Não precisa ser necessariamente cozinhar, mas escrever, pintar, tocar um instrumento musical ou qualquer uma dessas coisas que são especiais, justamente porque nascem de alguém para outra pessoa com o intuito de se fazer algo de diferente. Encantam-me os gestos e a forma como isso tudo inspira cuidado, carinho e afeto. Não, isso não foi uma tentativa de puxar a sardinha para o meu lado, mas uma tentativa de nos fazer ver além de uma ação: quem cozinha e põe a mesa, convida-nos a sentir o amor no paladar. Quem canta, quem dança, quem escreve um poema e quem desenha encontra outras formas de demonstrar o que nós chamamos de amor. Por isso, se eu puder dar um único conselho, seria: apaixona-te por alguém assim.

Texto de Daniel Bovolento

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