Eu vou ficar bem e tu vais sentir a minha falta

Eu fiz planos ao teu lado como se não houvesse amanhã. Abri mão de muita coisa por ti. Ninguém é obrigado a fazer isso por alguém, mas para mim não era nenhum tipo de sacrifício poupar os meus próprios sorrisos, para conquistar os teus. Perdi as contas de quantas vezes eu fiz por ti o que nunca ninguém fez por mim. Não sou muito experiente em relacionamentos, mas eu sempre acreditei que a sinceridade move montanhas. O primeiro passo é não fazer com o outro o que eu não gostaria que fizessem comigo. Colocar-se no lugar do outro é fundamental, dessa forma, podemos prever quais os resultados de cada atitude. Só quem ama é capaz de cuidar, o resto, não tem importância.

Pois bem, eu cuidei de ti. Preocupava-me quando tu ias dormir tarde, mas precisavas acordar cedo. Quando tinhas que estudar, e ficavas altas horas no trabalho. Quando estavas doente, e eu parava a minha vida para prestar um socorro imediato. Eu preocupava-me quando estava frio, e dava-te o meu casaco para te esquentar. Quando tu estavas com fome, eu preparava o teu prato preferido. Eu fazia um esforço para te surpreender com qualquer coisa, só para te ver feliz. Definitivamente, eu não media esforços para demonstrar a paixão que eu sentia por ti. Eu fazia tudo, e tudo era espontâneo. Eu preocupava-me antes de tu pegares no sono, e te enchia de carinho para que tu sentisses o amor correr nas minhas veias. Quando, por um descuido qualquer, tu tropeçavas, eu segurava a tua mão. Quando os teus problemas apareciam todos de uma vez, eu servia de porto seguro para a tua calmaria voltar ao eixo. Eu fui calor, quando da tua parte só havia frio. E paciência, quando tu usavas palavras secas para argumentar qualquer desentendimento. Eu fui matemática, quando precisei contar até dez e não jogar tudo para o alto. E português, todas as vezes em que pensei em te escrever o que sentia, mas me faltavam palavras.

Eu fui muito mais do que tu merecias. Eu fui o teu sonho em momentos de tempestade. O amparo no momento de desespero, o equilíbrio na emoção, e a estabilidade na racionalidade. Eu tive compreensão, tentei entender-te e por vezes eu desculpei-te. Perdoei coisas que eu me julgava incapaz de perdoar. Chorei no silêncio no meu quarto. Pausei a música, quando ela me fazia lembrar de ti. Eu fui grande demais, para uma pessoa tão pequena.

E, então, a ficha caiu. Eu finalmente percebi que tu nunca tinhas estado verdadeiramente ao meu lado. Mantive um relacionamento unilateral, fechei-me no mundo e desprezei os meus instintos. Se a paixão não me tivesse cegado, talvez a realidade me teria dado um tapa na cara. Foi tudo uma mentira. Tu não reconhecias nada do que eu fazia por ti e, por isso, não fazias a menor questão de retribuir. Tu tinhas tudo muito fácil, da forma como querias, na hora e sem precisar sair do lugar. A culpa disso foi minha. Coloquei-te no trono mais alto do castelo, achei que a nossa história fosse encantada, mas a única pessoa iludida, no caso, era eu. Eu imaginei um projeto contigo, mas o projeto era grande demais para ti.

Talvez nunca tenha existido nós. Eu criei, fantasiei e acreditei. Foi miragem, desejo e vontade de que tu realmente sentisses algo por mim. Depositei em ti algo mais pesado do que tu poderias carregar.

Eu acho que ainda te amo, mas eu nunca mais voltarei a deixar, primeiramente, de me amar. Todos nós precisamos de alguém, mas só de alguém que também precise de nós…

Texto de Jéssica Pellegrini

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