Não deixes para amanhã o que tu podes deixar para lá.

Muito já se disse e se escreveu sobre a necessidade de nos desapegarmos de tudo o que não faz mais sentido nas nossas vidas e, mesmo assim, continuamos a acumular bagagens inúteis e que emperram o fluxo do nosso caminhar. Retemos dentro de nós mágoas, ressentimentos, utopias, promessas vazias, alimentando o que já se foi em vão. Temos, em vez disso, que aprender a deitar fora o que está a obstruir o nosso respirar, sem hesitar.

Assim como os ambientes ficam intransitáveis, quando lotados de quinquilharias, os nossos sentidos também não se conseguem renovar, se ficarem perdidos no meio de sentimentos negativos guardados dentro de nós. Por mais que seja difícil, é preciso deixar que as coisas vão embora e saiam de nós, para que possamos deixar o nosso caminho livre para receber novidades que nos acrescentarão em todos os aspectos.

É preciso ter discernimento para saber o que merece ser mantido e guardado connosco a sete chaves e o que deve ser deixado para trás, longe das nossas vidas, distante da nossa alma. Ficarmos a remoer, de forma passiva, o que fizemos ou não, o que fizeram connosco, o que dissemos ou deixamos de dizer, os amores que se perderam, o que não foi mas deveria, sem digerir tudo isso em favor do nosso ir em frente, apenas servirá como peso catalisador de tristeza sem fim. E gente triste não avança, não partilha, não cresce nem encontra o novo, o recomeço.

A nossa felicidade também depende dos reveses que nos vitimam, para que ela se torne ainda mais especial quando se instala nas nossas vidas. Todas as dificuldades pelas quais passamos ajudam-nos a absorver os momentos felizes com mais intensidade e clareza, pois, tendo experimentado o gosto amargo da vida, seremos mais fortemente impelidos a buscar o sabor doce que os momentos certos e as pessoas amadas trazem consigo. Estaremos, então, prontos para agendarmos compromissos com tudo aquilo que nos ajudará a encontrar a felicidade, desmarcando possíveis desencontros inúteis.

Gastamos muita energia à toa com gente que não nos ama, com coisas de que não precisamos, com sentimentos que só nos atrasam o enriquecimento pessoal. Em contrapartida, perdemos a chance de encontrar pessoas que nos amarão de verdade, de cultivar sentimentos positivos e edificantes, de contemplar a beleza do mundo ao nosso redor, enfim, deixamos escapar a felicidade que se encontra ao nosso dispor, todos os dias.

Não podemos deixar de nos importar com tudo e com todos, adotando uma postura fria e distante, para evitarmos o acúmulo de tranqueiras emocionais. Da mesma forma, não basta negar e enterrar o que de ruim nos acontece, sem o enfrentamento necessário daquilo tudo, para que não fique algo pendente. Devemos, sim, lidar com toda a nossa bagagem, corajosamente, libertando-nos de amarras vãs, de pesos inúteis, de lembranças doloridas, pois somente assim estaremos inteiramente prontos para receber o melhor que a vida nos reserva. E, acredita, há muita coisa boa reservada para cada um de nós.

Texto de Marcel Camargo

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