Nós não escolhemos quem amamos, mas podemos escolher quem vamos deixar de amar

A verdade é que o amor vem de não sei onde, sem porquê, veloz e sorrateiro e se instala, muitas vezes sem nos darmos conta. Parece que não controlamos mais as razões do coração, nem as influências de certas pessoas sobre nós. Mesmo assim, após experenciarmos a forma como o outro entra nas nossas vidas, bem como o que ganhamos ou perdemos a partir desse momento, devemos estar prontos para agir acertadamente em relação à manutenção ou não desse alguém na nossa vida.

De início, quando a paixão parece minar qualquer capacidade de discernimento frente ao que o outro traz junto com ele, acabamos por supervalorizar as suas qualidades, sobrepondo-as às suas falhas, àquilo que nos incomoda. E assim vamos tentando, de novo e mais um pouco, pois temos esperança de que receberemos em troca o tanto que nos doamos, torcendo para que dê certo.

Difícil é perceber quando já tentamos demais, quando nada mais parece surtir resultado, quando os erros se repetem além da conta. Difícil é encarar de frente tudo o que se fez ou se deixou de fazer, tudo o que se disse ou se calou, tudo o que foi exposto, aniquilado, roubado, usado, todas as mentiras, os fingimentos, os silêncios ensurdecedores. Porque dói a constatação de que tudo o que sonhamos e construímos não tem mais futuro.

Ninguém quer dar errado na vida, seja em que área for. Queremos ser alguém que deu certo, que venceu e conquistou o que queria. Muitos de nós vemos a falência amorosa como a pior de todas as decepções que podemos carregar, uma vez que a separação leva junto com quem se foi muita da nossa força e da nossa autoestima. O que resta, de início, é tristeza, desalento e uma sensação amarga de derrota.

Estaremos sempre sujeitos aos términos indesejáveis dos relacionamentos na nossa vida, visto que o para sempre pode, sim, acabar um dia ou outro. É preciso, por isso, que estejamos dispostos a enfrentar tudo o que não deu certo, de modo a nos libertarmos daquilo que se tornou peso inútil.

E no final das contas, ninguém há-de negar que por mais que doa desistirmos de alguma pessoa, de alguma situação ou de algum vínculo afetivo, em favor de quem somos e da nossa felicidade, essa será sempre a melhor decisão a ser tomada. Porque desistirmos de nós mesmos seria condenarmo-nos à morte em vida, e viver será sempre a nossa maior vitória. Sempre.

Texto de Marcel Camargo

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