Nos meus olhos, a verdade.
Aqui estás tu. Nesse sinal repentino de vida, deixando-me cair no desespero, que me afoga o corpo e embebeda a alma. Ironia sentir borboletas no estômago e tempestades na mente, acabando com um dilúvio nas retinas por consequente. Um sufoco nos pulmões como um aperto no peito, um engolir a seco e mais um rasgar no vício, enfim, já avisto novamente o precipício.
É assim que tenho andado, à deriva, na corda bamba. Um sobrevivente num bote em mar alto, onde o horizonte é todo igual, sem destino, sem guia, esperando por um melhor dia. Disfarçando sorrisos, forçando piadas, rindo roucamente para não se notar o vazio. O silêncio que agora aqui habita.
Nunca ninguém me disse que ao saíres da minha vida, irias levar toda a bagagem contigo, toda a luz, toda a felicidade juntamente com os sorrisos oferecidos e por oferecer, todos os olhares cruzados e os por desvendar, todas as expressões que faziam de mim, melhor. Ficaram lágrimas, arrancadas de forma inesperada, sem noção das consequências, carregadas de mágoa e angústia. Sim, é um momento de aflição.
Sumiste da minha vida, mas não te levaste somente a ti, roubaste o meu mundo, o meu dia e a minha noite, a minha paz e a minha alegria. Fugiste com tudo, com as palavras que me acalmavam quando estava em agonia, aquele abraço que juntava os nossos batimentos, o beijo em que me drogava e que me fazia sonhar.
E eu, larguei tudo. Tudo, para te amar. Por uma chance de me endireitar, por uma chance de crescer, aprender e erguer. Por uma chance, a dois.
As pessoas não sabem, mas ainda sonho com o caminho para tua casa, com os quilómetros até à tua faculdade. Com a intensidade das nossas discussões, não que houvesse gritos, mas com a força, com a garra com que falavas como se tivesses toda a razão do mundo e fosses imparável, implacável. Não fossem esses teus caracóis mudar a história e fazerem de ti simultaneamente uma princesa e uma heroína.
As pessoas não sabem, mas ainda acordo durante a noite a pensar em ti, a ver-te caminhar, a dar o jeito no cabelo como se ele estivesse desarrumado, a olhar de lado nesse teu modo matador. Ainda sinto o tremer pela tua presença, recordo-te como se tudo tivesse sido ontem.
Ninguém sabe, mas quando fecho os olhos, eu vejo-te. E não reajo.
Olhar nos olhos é perigoso, porque os olhos dizem muito. E que nos meus, tu vejas toda a verdade.
Texto de Pedro Cardoso