O amor nasce de pequenos detalhes, e morre por falta deles
Encontrar o amor é uma tarefa difícil, mas é ainda mais difícil manter aceso o sentimento que nos mantém junto de quem amamos. Após encontrarmos o nosso amor, existe um longo caminho a ser percorrido, para que os sentimentos se fortaleçam e tornem o caminho conjunto repleto de cumplicidade e admiração mútua.
As pessoas vêm de universos diferentes, passaram por vivências próprias, sobreviveram a tempestades únicas e, de repente, precisam confrontar tudo o que são com alguém de fora, precisam tentar harmonizar perspectivas na maioria das vezes dissonantes e distantes, em favor da necessidade de amarem e serem amadas. A paixão chega, arrebata e lança-nos ao encontro de um outro mundo, no qual mergulharemos às cegas, a fim de saciarmos a fome de amor que é tão nossa.
A convivência diária não é fácil, uma vez que o tempo nos mostra e nos desnuda em tudo o que somos, da mesma forma que nos traz as verdades acerca de quem está ali ao nosso lado, mesmo aquelas verdades que nos incomodam. Infelizmente, poucos são os que estão dispostos a arriscar, a sair da sua zona de conforto, a refletir sobre o que eles mesmos e os outros têm feito da vida de modo a poder melhorá-la.
Quem não está disposto a entregar-se totalmente ao outro, tal como o amor requer, acabará fatalmente por dedicar ao outro o mínimo de si mesmo, condenando-o a um vazio solitário provocado por uma presença incompleta. Quem não se entrega totalmente ao amor não abrirá mão de nada, não ouvirá os sussurros da pessoa que se encontra ali ao lado, não olhará fundo nos seus olhos, não sentirá as acelerações do coração que pulsa ali pertinho, não responderá aos desejos, não tocará a pele, não dará, enfim, a devida importância a quem esteve sempre do seu lado.
E ninguém há de suportar indefinidamente o desprezo, a indiferença, a agressividade silenciosa nem a companhia vazia de quem um dia lhe prometera amar pelo resto da vida mas parece já não amar mais. O amor não aceita falta de respeito, não sobrevive de memórias do passado, muito menos se alimenta de esperanças unilaterais e de correspondência nula. Só amor, somente amar, apenas as lembranças daquilo que um dia já foi mas agora não é mais, nada disso será capaz de manter duas pessoas juntas. Porque o amor é paciente, sim, mas tem o limite exato da dignidade que nos sobra ao fim do dia. Nada mais do que isso.
Texto de Marcel Camargo