Sobre ela…
Ela é independente, quase sempre. É vaidosa, mas nem sempre. Ela é doce, com quem merece. E é corajosa, tanto que te deixaria surpreendido.
Ela é assim, mas costumava ser diferente. Amanhã irá mudar, muito provavelmente. Um e sessenta e tantos mistérios que tu jamais vais decifrar. Ela tem a mania de se assustar por motivos tolos e de demonstrar força quando o mundo ameaça desabar. Ela tinha tudo para ser triste, mas prefere viver a sorrir, e não é um sorriso qualquer. As lágrimas, que costumavam ser frequentes, hoje parecem não ter mais a autorização para desabar.
E por falar em desabar, ela já perdeu o chão tantas vezes, que acabou por aprender a flutuar. Perdeu o teto e ganhou as estrelas. Perdeu o medo e apaixonou-se por si mesma. Mas quem é que consegue não ficar encantado? Alguém tirar-lhe a paz não é tarefa fácil. Ela já aprendeu que precisa de pouco para ser feliz. Uma tarde a olhar o horizonte, aquela brisa no rosto, as amigas de sempre e a eterna sede de viajar. Para fora e para dentro. Para novos lugares e para os mesmos de sempre.
Ela tem uma relação diferente com a natureza. Ela fecha os olhos enquanto conversa com o vento. E abre a alma enquanto namora o mar. E deita-se na relva para sentir a terra. As nuvens desfilam novas formas quando ela para para observar. E o sol faz os seus olhos mudarem de cor. Faz o seu sorriso brilhar. Faz a sua pele dourar. Faz o seu coração aquecer. Faz o tempo congelar. E congelados estão os homens à sua volta. Atordoados por não conseguirem com ela o que conseguem com todas as outras.
Não adianta dizer o quanto ela é linda, porque ela já sabe. Não adianta prometer, porque ela sabe quando tu não serás capaz de cumprir. Ela conhece mais pessoas que tu. E mais lugares que tu. Ela já viveu o suficiente. Já errou o suficiente. Já amou o suficiente. Agora ela só quer dançar. Só quer sorrir. Só quer voar. Ela não quer mais mergulhar. Ela já sabe que lá embaixo é frio e escuro, e sabe quanto tempo se gasta para retornar à superfície. Não. Chega de profundezas. Ela só quer deitar-se na água calma e rasa, ouvir uma boa música e tomar uma boa bebida. E que o amor a encontre pelo caminho.
Texto de Rafael Magalhães