O meu silêncio não significa que eu esqueci!
Ao contrário do que possa parecer, muitas vezes o silêncio tem muito a dizer. Muitas vezes ele carrega no seu aparente vazio uma intensidade tamanha de sentimentos e de carga emocional muito mais significativa do que enxurradas de palavras ou gestos espalhafatosos. O silêncio pode acalmar, ferir, amparar ou até mesmo violentar, às vezes trazendo paz, outras vezes incitando tempestades – nem sempre o silêncio é pacífico.
O silêncio pode ser revolta, rebeldia, contrariedade contida. Nem sempre estamos prontos para expressar os nossos pontos de vista, no sentido de verbalizar o que queremos, o que temos aqui dentro. Assim, mesmo que estejamos a discordar de algo, silenciamos, pois falta-nos a coragem necessária para que nos libertemos dessa prisão que nós próprios criamos, ou mesmo porque sabemos que qualquer tentativa de diálogo será inútil e cansativa naquele momento.
O silêncio também pode corresponder à reflexão, a um turbilhão de pensamentos a pulsar dentro de nós. O pensamento e a fala devem conviver harmonicamente, de forma que um não atropele o outro. Palavras, após proferidas, não voltam mais, deixando as suas marcas, muitas vezes negativas, nas nossas vidas e nas daqueles que as ouviram. Pensar sobre o que se diz é necessário, pois caso possamos machucar alguém ou a nós mesmos, sem razão, é preferível calar.
Às vezes, o silêncio é solidão, é vazio. Mesmo acompanhados, ainda que no meio de muitas pessoas, podemos estar solitários, sentindo-nos sozinhos, sem partilha, sem pertencimento. Como se não fizéssemos parte da vida do outro, como se fôssemos desimportantes, dispensáveis. Perdidos nessa irrelevância emocional, ruímos por dentro, minando a nossa autoestima e a nossa capacidade de ser feliz.
Outras vezes, o silêncio é desistência. Há momentos em que o mais prudente a se fazer é desistir de algo, de alguém, de tentar convencer, de querer amar, de clamar por atenção e reciprocidade. Certas situações pedem que nós partamos para outra, que canalizemos as nossas forças e energias em direção ao que nos trará contrapartida, retirando-nos dos apelos vazios, do mendigar afetivo, pelo bem da nossa saúde física e do nosso equilíbrio emocional.
Silêncio, da mesma forma, pode significar desapego, libertação, livramento de amarras que nos impedem o caminhar tranquilo da nossa jornada. Precisamos de nos despedir de tudo aquilo que pesa nos nossos ombros, e que nos impede de ver as possibilidades que nos reserva o futuro. Temos que serenar aquilo que nos intranquiliza, e atirar fora bagagens sem as quais conseguiremos viver melhor.
O silêncio muitas vezes é mágoa, ressentimento, lamentação acumulada. Na impossibilidade de encontrarmos coragem de vivermos as nossas verdades por inteiro, de rejeitarmos o que não nos completa nem nos define, de impormos aquilo em que acreditamos, acabamos por sufocar os nossos sentimentos mais íntimos sob a infelicidade de aparências condizentes com o que todo mundo espera – exceto nós próprios.
Felizmente, no entanto, o silêncio também pode – e sempre o deveria – implicar felicidade, certezas, convicção e força. Sabermos os momentos certos para calarmos e guardarmos para nós aquilo que pensamos pode salvar-nos de problemas dispensáveis com gente que não significa nada na nossa vida. Quando estamos seguros quanto ao que somos, quanto aos nossos sonhos e planos de vida, nenhum barulho é capaz de abalar as nossas verdades. Quando o silêncio guarda o que temos de mais precioso, é sinal de que estamos a caminhar rumo ao alcance dos nossos sonhos, para que possamos dividi-los com quem compartilhamos amor de verdade, e com ninguém mais.
Texto de Marcel Camargo