A culpa é mais minha do que tua, porque eu permiti que tu não me tratasses como eu merecia
O problema não foi tu partires, era saber que não me amavas mais; se é que algum dia soubeste o que era amar. O que me consumia não era saber que tinha chegado o dia em que as nossas bocas jamais se tocariam, mas sim o dia em que eu finalmente perceberia que todos os dias que me dediquei a ti não foram suficientes. E, mais do que isso, era saber que já não me restava amor-próprio, porque com o tempo fui tirando de mim para to dar. Mas nem assim foi suficiente.
Mas era de prever, e a culpa é mais minha do que tua, porque eu deixei. Eu deixei que não me assumisses com o maior dos orgulhos, com a tua desculpa de que era melhor assim, para não criar problemas. Eu deixei que me olhasses todos os dias com aqueles olhos de desprezo que eu nunca esquecerei, apenas porque dizias que o dia tinha sido cansativo. Eu deixei que me humilhasses e me usasses, apenas na esperança de que em algum momento os dias maus se tornassem bons, num futuro que seria promissor para nós, e, sobretudo, durador.
Mas aqui estamos nós. Ou melhor, eu aqui, e tu por aí, sei lá onde. E de uma coisa tenho a certeza: não me tens no pensamento. Não te lembras do meu sorriso, com a mesma intensidade com que eu me lembro do teu. Não te lembras das conversas trocadas, das promessas feitas e não cumpridas. Não sabes o que é a dor de sentir que tudo o que temos nos foi tirado, porque sim, tu eras o meu tudo, e agora não me resta nada. Não me resta esperança. Não me resta orgulho. Não me resta amor. E, sobretudo, não me resta alegria, porque essa tu levaste contigo no dia em que achaste que seria melhor deixarmos de delinear os nossos futuros juntos.
Já não sabia o que era viver sem ti, e agora vou ter que descobrir. Mas irá chegar o dia em que a alegria e a vontade de viver irão entrar na minha rotina, da mesma forma que tu entraste naquele dia de verão, onde nada faria crer que a minha vida mudaria para sempre. Nesse dia, eu serei feliz, e tu não serás mais o motivo.
Texto de Ana Filipa Cunha