Gostar é ter pressa para chegar a casa, é desistir de sair porque começou a chover, é deixar para depois o que poderia ser feito para hoje. Amar é sofrer por cada segundo que passa, é não ver o tempo passar e na hora de ir embora, lamentar: “mas já?”. Amar é sair debaixo de chuva se for preciso, ou inventar um desses programas com edredons, filmes e cafunés, é aprender com o passado, viver o presente e se importar com o futuro.
Gostar é beijar e não perder a noção do tempo nem do espaço. É saber muito bem onde se está e, de vez em quanto, abrir os olhos para conferir o mundo à nossa volta. Amar é permitir ser sequestrado por um beijo, é viajar na velocidade da luz, é sentir que se está perdido e não fazer esforço algum para se tentar encontrar. Amar é quando o beijo te deixa atordoado, sem fôlego e a sentires-te especial. Gostar é quando o beijo tem começo, tem fim, mas não tem história, é quando tu te sentes como só mais um.
Quando não existe amor, o sexo pode ser bom, mas não deixa de ser só atração. Amar é ter uma ligação que vai além da carne, é uma relação de almas. Gostar é ter vergonha de expor os seus defeitos, é esconder os erros debaixo do tapete, é tentar mostrar que se é perfeito o tempo todo, mas por trás, tu sabes que não estás a ser verdadeiro. Amar é não ter vergonha dos teus defeitos, é exibi-los sem receio, é deixar claro que estás longe de ser alguém perfeito, mas que jamais farias algo que magoasse o outro.
Gostar é dormir junto, mas levantar cedo no outro dia para outros compromissos. Amar é abrir mão da rotina e querer ficar junto até à próxima vida. Gostar é ver as qualidades, mas reparar nos poucos defeitos. Gostar é dar as mãos, mas ainda assim não se sentir seguro. É seguir com alguém, mas carregar aquela leve impressão de que não vai dar em nada. Gostar é prender-se ao outro, amar é escolher ficar mesmo com tantas opções para fugir.
Gostar é prometer, amar é surpreender. Gostar é falar, falar, falar, amar é agir. Gostar é “vou ver e qualquer coisa eu ligo-te”, amar é “liguei-te para dizer que estou a ir para aí”. Gostar é pensar: ”Eu espero o outro mandar-me uma mensagem, ou mando eu?”, amar é aparecer, comparecer, é dizer o que o coração quer sussurrar. Gostar é preferir calar e falar só o que a mente deseja, gostar é querer estar sempre certo. Amar é aceitar que nem sempre tu estarás com a razão. Amar é ceder, é não ter vergonha de demonstrar afeto.
Gostar é abraços apertados, mas que não duram muito tempo. Amar é não se preocupar em mostrar todos os dias o quanto o outro é especial. Gostar é não ter planos, é duvidar que as coisas possam dar certo com o outro. Amar é fazer planos, viagens, imaginar um futuro, esforçar-se para que as coisas se realizem com aquela pessoa.
Gostar é pensar em desistir no primeiro desencontro, é querer ir embora na primeira oportunidade, é desistir do outro porque no final das contas, tu não consegues vê-lo com amor. Amar é saber que dias ruins também virão, que a vida nem sempre é um mar de rosas, que em alguns momentos as coisas vão apertar um pouco, que haverá desentendimentos. Amar é ter coragem para enfrentar os outros, o mundo e principalmente as mudanças que o tempo é capaz de trazer.
Gostar é querer ficar junto, mas nem sempre ter vontade para isso. Amar é estar junto, independentemente de qualquer coisa. Gostar é ser egoísta, é conseguir pensar só em si mesmo. Amar é resistir aos ciúmes, é não esquecer de si mesmo, mas manter o pensamento no outro. Gostar é enviar uma mensagem só para saber se o outro chegou bem. Amar é torturar-se a todo o momento e sossegar só quando receber aquela mensagem: “Já cheguei”. Por fim, gostar é prometer que vai ficar tudo bem, amar é fazer com que fique tudo bem. Gostar é dizer: “já fiz tudo o que pude”, amar é ter a vontade de fazer sempre mais, sem medir esforços.
Texto de Iandê Albuquerque