A gente sobrevive, sim, mas nem sempre volta a ser o que era antes
Às vezes, a vida nos tira o que ou quem temos de mais precioso, trazendo-nos uma perda demasiado dolorosa e pungente e cujas marcas estarão impressas na nossa alma enquanto vivermos. Poderemos até voltar a sorrir, a sonhar, a ser alguém que segue em frente, mas a carga das cicatrizes enraizadas estará ali, silenciosamente nos tocando por dentro, não o tempo todo, mas sempre presente.
Apenas sobreviveremos nesse mundo caótico e violento de hoje, caso consigamos manter a fé e a esperança de que dias melhores virão, de que ainda é possível confiar nos seres humanos. Mesmo assim, existem momentos tão devastadores na vida da gente, que nos machucam fundo na alma, tornando-nos mais fortes, porém menos inteiros.
Quer seja a saudade de um filho que partiu, o sofrimento de um ente querido que agoniza, a perda de tudo o que foi conquistado por conta de fenômenos naturais, um evento que deforma e mutila, um desemprego que perdura por anos a fio, uma traição descomunal de um amor, de um amigo ou de um sócio, por exemplo, aniquilam a nossa autoestima, devastam o nosso emocional, deixando marcas permanentes.
O pior disso tudo é que hoje se cobra muito uma felicidade explícita, um sorriso frequente, como se fôssemos obrigados a estar bem o tempo todo. Logicamente, não poderemos nos abrir sempre e para quem quer que seja, pois a maioria das pessoas só nos pergunta como estamos por mera formalidade. Forçar um estado de espírito que não condiz com o que realmente estamos sentindo nos faz muito mal.
Daí a necessidade de construirmos um relacionamento sincero e saudável com as pessoas que nos são queridas, pois as lembranças felizes e especiais nos servirão como alento e motivação para que retomemos as forças, no sentido de continuarmos a acordar com o propósito de buscar a felicidade, ainda que sigamos incompletos. Se nada será como antes, pelo menos aquela parte de nós que sobreviveu terá a certeza de que o amor verdadeiro é mais forte do que tudo, protegendo-nos contra a demora exagerada nas escuridões da nossa alma.
Texto de Marcel Camargo