Não é preciso ter envolvimento físico para trair. Quando alguém começa a ter conversas escondidas e a apagar mensagens do telefone, já está a trair.
Os traidores não precisam de motivos para trair. Precisam de oportunidades. Quem trai preocupa-se mais com as desculpas que dará para tentar justificar o erro do que com as consequências do ato (e olha que, na categoria drama, o traidor deveria ser indicado ao Oscar pela sua atuação).
Trair é toda e qualquer forma de ferir quem, um dia, confiou naquela pessoa.
As pessoas traem de tantas formas que, muitas vezes, nem têm consciência de que o que estão a fazer é uma traição. As pessoas traem quando esquecem as pequenas gentilezas. Traem quando fingem que tudo está bem, quando na verdade não está. Traem quando negligenciam as vontades do seu companheiro para agradar a outras pessoas. Traem pelos mais diversos motivos.
Trair não é um deslize, é uma escolha.
É preciso entender que ninguém trai por acaso. Da mesma forma que uma pessoa escolhe ser fiel, a traição nada mais é do que uma escolha voluntária. A infidelidade não acontece por falta de amor, mas por falta de respeito. As pessoas respeitosas e bem intencionadas não traem o amor nem a confiança de quem lhes quer bem.
Aceitar uma traição é o mesmo que assinar um termo a abrir mão do próprio respeito e da própria dignidade. Repudiar uma traição, seja ela de que natureza for, é investir no nosso amor próprio, e esse é o melhor investimento que podemos fazer na nossa vida.
A dor que resulta de uma traição é intensa porque nunca vem de um estranho.
A dor resultante da traição vem de quem amamos e de quem permitimos total acesso ao nosso lado mais íntimo e aos nossos sentimentos. Por isso é mais fácil conviver com inimigos do que com traidores, porque pelo menos os inimigos não escondem nas suas intenções nem a raiva que sentem por nós. Os nossos inimigos, ao menos, não nos podem trair.
Onde há traição não pode haver amor. As relações são feitas para melhorar a vida e não para preencher vazios existenciais. Cada indivíduo é livre para se amar, e alimentar relações fúteis é tão necessário como comer sem ter fome.
Texto de Pamela Camocardi