Aceitar as pessoas como elas são não nos obriga a conviver com elas
É preciso tolerar e aceitar as pessoas como elas são, porém, conservando-nos o direito de nos afastar cordialmente de quem não nos agrada.
A tolerância é uma necessidade urgente neste mundo violento de hoje, em que uma simples discussão no trânsito pode chegar a provocar mortes. A intolerância é a mãe do preconceito, da exclusão, do racismo, de tudo, enfim, que segrega, separa e agride o que não se aceita, o que não se acha normal, o que incomoda sem nem sequer haver razão. Sim, é preciso tolerar e aceitar as pessoas como elas são, porém, conservando-nos o direito de nos afastar cordialmente de quem não nos agrada.
Podemos entender que o outro tem a própria maneira de pensar, que sua história de vida é peculiar e as suas bagagens podem ser totalmente diferentes das nossas. Podemos compreender que as verdades alheias, por mais que nos soem absurdas e sem sentido, são apenas do outro e não necessariamente nossas. Desde que não nos firam, as escolhas do outro não nos dizem respeito. Desde que o outro esteja feliz, sem pisar ninguém, não temos como tentar intervir em estilos de vida que não são nossos.
Devemos saber discordar sem ofender, sem tentar impor o que pensamos como verdade absoluta – isso é arrogância burra. Necessitamos ouvir o que o outro tem a dizer, por mais que não enxerguemos ali razão alguma, mesmo que o que disserem ou fizerem seja exatamente o contrário de tudo o que temos como certo. Desde que não nos ofendam, nem ultrapassem os limites de nossa dignidade pessoal, os outros terão o direito de viver o que bem quiserem.
Por força maior, como o emprego ou a família, inevitavelmente estaremos sujeitos à obrigação de conviver ao lado de pessoas com quem não simpatizamos ou cujas ideias não são minimamente compatíveis com as nossas. No entanto, sempre poderemos escolher quem ficará ao nosso lado nos momentos mais preciosos da nossa jornada, enquanto construímos a nossa história de vida, de luta e de amor.
Desta forma, conseguiremos desviar-nos de quem nos desagrada, afastando-nos das pessoas que nada nos acrescentam, sem precisar criticá-las ou brigar com elas. Sim, podemos – e devemos – aceitar as pessoas como elas são, pois isso é o mínimo que se requer, porém, não seremos obrigados a conviver com elas além do necessário, além do suportável, além do adequado, com gente que nos enche a paciência e nos irrita. Isso seria masoquismo.
Texto de Marcel Camargo