Ama-te intensamente.

Ama-te. Às vezes é mais fácil amar os outros. Aceitamos os seus defeitos para nos deliciar com as suas virtudes, mas dificilmente vamos amar-nos a nós. Adoramos o cabelo lindíssimo daquela nossa amiga morena, mas rogamos pragas ao nosso cabelo encaracolado que nos cai para cima dos olhos em dias de vento. Invejamos aquela rapariga magra que se passeia na praia em fato de banho, e nós a odiarmos aqueles quilinhos a mais que temos nas ancas, a achar que toda a gente vai olhar para nós e rotular-nos. Feia. Gorda. Atadinha.

É natural que nos rotulem, quando nós somos os primeiros a rotular-nos. Somos os primeiros a exprimir ódio por uma parte de nós, quando devíamos ser os primeiros a olhar para o outro lado do espelho e dizer: Hey. Eu gosto mesmo de ti.

Não duvido por um segundo que tu, sim tu que estás sentada a ler isto, inclinada na cadeira, no sofá, a petiscar qualquer coisa, com uma bebida na mão só para passar o tempo, és a pessoa mais bonita do mundo. Tu, que te levantas todos os dias às 6 da manhã, e que te arrastas todos os dias para o autocarro ou para o comboio. Tu, que vestes camisolas largas e usas o cabelo atado porque queres evitar atenções, porque é mais fácil. Talvez esse seja o teu estilo. Talvez tu gostes mesmo do rabo de cavalo no alto da cabeça, ou da camisola larga de cor azul que tu guardas com carinho no fundo do teu armário. Talvez sejas uma pessoa que não liga a olheiras, ou a sombras e batom, talvez sejas uma mulher de ténis em vez de saltos altos. E se és, mostra-o com confiança. Mostra-te. Mostra ao mundo que tu és linda. Não te escondas por detrás de tops justos e sandálias de salto se isso não é quem tu és, só porque achas que o mundo te vai achar bonita assim. Não precisas de maquilhagem para isso.

Tu és linda. Sim, tu, que estás cansada, cheia de sono, que te doem os ombros, as costas, que queres dormir mas ainda tens mil coisas para fazer. Diz para ti própria: Amanhã, vou ser confiante. E quando o despertador tocar, sorri. Sorri, mesmo antes de abrir os olhos, e levanta-te. Caminha como se o mundo for teu, e ele é mesmo. Estás aqui, ninguém te pode roubar isso. Caminha confiante, de cabeça erguida, usa a tua melhor camisola. Olha, aquela cor de rosa que tu evitas usar porque é demasiado chamativa, ou curta, ou mostra um pouco de decote, e por isso lá a vais mantendo guardada na gaveta, junto à tal camisola larga que tanto vestes, com a mentira de que um dia tu vais usá-la para a escola, para trabalhar.

Ouve música. Quem disse que aquela balada lamechas que te faz chorar não é boa para cantar aos altos berros no carro? As portas estão fechadas, o mundo é teu, ninguém te ouve. Se te apetece ouvir aquela música animada de quando eras mais nova, porque não? Só tu própria te impedes de carregar no play.

Vão haver dias em que te vai apetecer prender o cabelo no tal rabo de cavalo, e esconder os tais quilinhos a mais que tu dizes ao espelho que tens por detrás de uma camada larga de roupa, um dia em que queres experimentar aquele rimel novo da tua irmã ou amiga, mas que encolhes os ombros e dizes: Não vale a pena.

Mas porquê?

Vale a pena, sim senhora.

Deixa a camisola. Solta o cabelo. Abre as janelas do teu quarto e inspira fundo, deixa o sol bater-te na cara. Ama-te a ti mesma.

Texto de Ana Laura

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