Antes só do que amado pela metade. Sozinhos somos inteiros.

Tu não querias, mas disseste adeus. Não havia mais nada que fizesse aquele amor ficar. Restaste somente tu e os sonhos que um dia foram de duas pessoas. No vazio do quarto silencioso, a tua vontade de te levantares ficava escondida no canto mais frio debaixo da cama. Estava tudo fora do lugar. Móveis, objetos e pensamentos perderam-se na desarrumação da despedida, na partilha para decidir quem fica com o quê. Murcharam-se as flores do canteiro da janela e tu esqueceste-te que precisavas sair de casa para viver.

Quer nós queiramos quer não, o frio da solidão chega como um beijo da morte, carregado de culpas e porquês. O vento gelado traz dúvidas como “e se eu tivesse feito isto” ou “se não tivesse feito daquela maneira”. A solidão chega, congelando o riso e aumentando a dor de quem fica. Tudo chega, só não vem mais o amor que já foi embora.

Quando deixamos o amor partir, aprendemos a deixar o inverno passar. E para que chegue a estação do sol e das flores, não podemos insistir em viver a vida daquele amor, porque esse amor já partiu. Ora, tu nem gostas dessas músicas que vocês ouviam juntos só porque ele gostava. Antes tu ouvias, tudo bem. Mas, agora, porquê continuar com essa tortura musical? Põe a tocar a tua canção preferida e atira-te para dançar no meio da tua sala! Põe um vaso florido no centro da tua mesa de jantar enquanto reaprendes a fazer as refeições somente na tua companhia. Daqui a pouco estarás a colher as flores que nascerão no jardim da tua alma.

Atenção: não é culpa tua se mais um amor não te amou. E também não é ao exigir do outro a entrega de algo que não é teu que alguém te amará. Não temos a posse do outro, então não te aflijas por deixares partir da tua vida o que não te pertence. Deita fora as tuas dúvidas e não te esqueças que “desistir de alguém não é fracassar, é só reconhecer que não se pode amar onde não há reciprocidade”.

Eu sei que, se tu pudesses, apanharias um avião agorinha mesmo só para encontrares o amor de novo. Irias de barco, de comboio, de bicicleta, a pedir boleia. Pedirias férias, só para viajar, seguir e rastrear o cheiro do perfume do amor. Ah, se tu pudesses, tu convidar-lho-ias para tomar um café, uma cerveja, um banho quente e falariam dos vossos filmes preferidos, quais livros estão a ler, sobre política, filosofia e sobre nada. Ouviriam o silêncio da noite e as suas revelações, os seus planos e medos.

Mas parece que tu e o amor estão sempre a desencontrar-se. Quando tu chegas, ele já passou. Quando tu vais, ele aparece. E nesse esconde-esconde tu ficas cheio de saudades, desejas o que já se foi e o que nunca chegou. O teu coração é um barquinho num oceano de lembranças, ora passeando por águas calmas, ora perdendo-se em lágrimas turbulentas.

Então, deixa o inverno passar e levar o teu barquinho para águas que tu não conheces ainda. Navega um pouco sem rumo, mas sempre em frente. Lembra-te que o pôr do sol acontece para que na manhã seguinte o teu oceano receba um beijo quente de luz. O amor está em algum porto distante e perto de ti.

Vai navegando com a tua vida porque somente tu podes completá-la. Faz uma festa para os amigos em casa, vê filmes, mesmo sozinho, e sai para passear por aí mesmo que a companhia sejas tu mesmo. Sê feliz com o que tu tens até não precisares de ter ninguém. Vai navegando ora triste, ora feliz, mas vai navegando sem te preocupares com o tempo que falta para o amor chegar. Livra-te das convenções sociais que ditam que temos que ter alguém. Acredita, é bem melhor estar só do que ser amado pela metade. Sozinhos somos inteiros.

Não é que seja sempre fácil, mas pode tornar-se numa viagem recompensadora. E quando um dia tu ancorares numa nova praia, e o calor dessa areia amanhecida aquecer a tua alma e a brisa suave que vier das ondas do mar te beijar, tu saberás… É o amor a ser escrito nos versos da vida que dois corações navegantes decidiram partilhar!

Texto de Rebeca Bedone

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