Carta para quem amou em 2015

Este não foi um ano fácil, é verdade. Talvez porque tenha sido a própria contradição: demorou, ao mesmo tempo que voou. E, já que a felicidade é estar onde se está (nem a pensar em como será o futuro, nem a viver do que foi o passado), tu podes sentir-te orgulhoso. Amor é entrega e é preciso coragem para abrir mão do medo. Quem amou em 2015 pode terminar o ano feliz.

Mesmo aqueles que amaram por uma hora. O ano tem mais de 8 mil horas, mas se uma delas foi de amor intenso – mesmo cego, mesmo burro, mesmo calado – valeu a pena. Porque amor não depende de tempo para ser eterno: se durou 15 minutos ou uma vida, é amor, é o mesmo amor.

Também já pode sorrir quem sofreu de amor. Porque isso significa que amou. E amar vale sempre repetir, é um presente. Sofrer de amor faz de nós mais humanos, menos exigentes com a vida e mais certos de que não importa o sofrimento que vai chegar depois: viver é sobre permitir-se a arriscar.

Vão terminar o ano leves aqueles que ainda amam. Se amaste a mesma pessoa desde janeiro, tu venceste a pior das armadilhas da rotina: fazer com que o amor se torne tão banal quanto o café da manhã ou o beijo de boa noite. Exercitar o amor é amar sem medidas.

Ter amado mais a si mesmo também é motivo de festa. O convívio mais difícil é o único que não podemos evitar. Relacionamentos terminam, amizades diluem-se, paixões esfriam. Mas olhar no espelho acontece todos os dias. Ser gentil consigo mesmo e perdoar-se acontece todos os dias. Se tu conseguiste encarar os teus olhos e sentir verdade no que viste e tens a sensação de estar mais perto de ti do que no último réveillon, também tens motivos para comemorar.

Celebra o amor que sentiste pelos teus amigos. Todas as vezes que te apaixonaste pela personalidade de alguém que jamais imaginaste gostar, as gargalhadas que dividiste com desconhecidos cúmplices, os carinhos que recebeste depois da saudade quase te afogar. Cada garfada de um prato feito com carinho, todo o presente que ganhaste sem esperar, as energias positivas que te permitiste mandar para alguém que não esperava. As conquistas suadas de todos os dias, a alegria que sentiste pela promoção de um colega, a sombra que traz um pouco de alívio durante o calor.

Comemora, sobretudo, se tu entendeste que amor não é um relacionamento. É um sentimento que faz tão bem a quem emana quanto a quem recebe. Amor é um jeito de ver a vida que às vezes se confunde com o jeito como vemos alguém. Ainda bem.

Texto de Marina Melz

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