Deixa ir: é melhor alguns meses de coração partido do que uma vida inteira de decepções
Talvez um dos maiores obstáculos à felicidade seja o medo de sofrer. Temos medo de enfrentar a dor, porque achamos que não conseguiremos suportá-la e, por essa razão, muitas vezes acabamos por trazer um sofrimento ainda maior para as nossas vidas mantendo do nosso lado o que não nos ajuda a sermos felizes; muito pelo contrário.
Entre todos os sofrimentos que evitamos, encontra-se o medo de nos separarmos do parceiro, que nem mais parceiro é, que nem cuida mais de nós, que nem nos ama mais. Evitamos ao máximo um rompimento que já se tornou urgente e necessário, evitamos tomar a atitude certa, a única atitude possível e coerente naquele momento, uma vez que manter esse alguém do nosso lado está a acabar com a nossa vitalidade, com a nossa razão de sorrir, com o nosso potencial em amar com reciprocidade.
Por mais que o outro nos ignore, nos esqueça, nos torne invisíveis, muitas vezes acabamos por tolerar demasiado tudo isso, pois as nossas forças ficam extenuadas, de tanto avisar e avisar de novo. Isso acontece porque a gente acreditou tanto, a gente investiu tudo o que tinha, a gente se entregou de forma tão transparente e por inteiro, que agora a gente quer muito dar certo no amor. Não queremos aceitar a falência daquilo que exigiu tanto esforço da gente e que agora dói demais.
E, assim, vamos insistindo em manter nas nossas vidas exatamente quem deveria ficar bem longe – quem já teve a chance de fazer parte de nós mas não aproveitou, quem nunca fez a menor questão de lutar por nós ou mostrar que nos merece ter presente na sua vida. E assim vamos aumentando a nossa dose diária de dor e de sofrimento, exatamente porque pensamos estar a evitar a dor maior – a da separação.
É preciso deixar ir. Deixa ir quem apenas fica por comodismo, quem fica como peso, como bagagem inútil, quem só recebe e nada te devolve, quem não te percebe, não te enxerga, não te espera para nada, por nada. Manda embora da tua vida quem te mente, quem pratica o tanto faz. O sofrimento por quem vai embora é doloroso, mas libertador. É preferível a dor do rompimento que aos poucos acalma do que uma vida cheia de decepções ao lado de alguém que não te merece. É preferível uma saudade que aos poucos sumirá do que sofrer todos os dias por medo de arriscar um outro caminho para a felicidade. Dor sem fim ninguém merece, muito menos tu.
Texto de Marcel Camargo