Já Foste

Desistir, ainda que não pareça, é um grande ato de coragem.

Dá-se muita importância ao que se consegue, ao que se alcança, ao quanto vencemos na vida. No entanto, poucos se lembram de que será preciso por vezes desistirmos, abrirmos mão de muitas coisas e de algumas pessoas, caso queiramos persistir na busca de uma meta. Às vezes é mesmo preciso desistir.

Desistir de correr atrás de pessoas que não te incluem em nenhum dos seus planos, que mal se lembram de que tu existes, que colocam o teu nome no final de qualquer lista. Não te humilhes por quem não consegue enxergar tudo o que tu tens para oferecer. Aproxima-te daqueles que sorriem ao te ver chegar, que se dispõem a ouvir o que tu tens a dizer, que respondem às tuas chamadas, às tuas mensagens, ao teu olhar.

É preciso desistir de investir naquilo que não tem futuro, de gastar energia e tempo elaborando planos que não condizem com o que tu és. Não te percas no meio de gente hipócrita, que sabe o preço dos teus sapatos, mas desconhece a data do teu nascimento. Investe na tua qualidade de vida, nos sonhos que vão ao encontro do que existe dentro de ti, do que faz o teu coração vibrar.

É preciso desistir de se contentar com pouco, com metades, é preciso parar de se conformar com o que poderia – e deveria – ser muito melhor. Não caminhes por travessias menos coloridas, menos iluminadas, menos especiais, por conta de achares que já está bom. Procura sempre mais, procura a inteireza, a amplitude, a bonança afetiva, o amor transbordante, as gargalhadas de doer o estômago. Procura preencher a dimensão exata dos teus sonhos mais altos, nada menos do que isso.

É preciso desistir de sentir pena de si mesmo, de choramingar pelos cantos, enquanto desperdiçamos os momentos que valem a pena. Não invejes, não te compares com o outro, não te esqueças do que e de quem já está contigo. Nunca estaremos derrotados, enquanto houver vida, enquanto pudermos levantar a cada manhã, com tudo ali à nossa frente esperando por nós.

Nem sempre estaremos bem, nem sempre poderemos contar com as pessoas, nem sempre conseguiremos conter as lágrimas que insistem em cair. Enfrentaremos dias e noites sem fim, sem luz, momentos de dor e desalento. Teremos perdas inconsoláveis, decepções dolorosas, escuridões em que não conseguiremos ver saída. No entanto, desistir de sofrer por tudo o que é inútil irá fortalecer-nos. Porque nesse momento teremos feito as desistências que salvam.

Texto de Marcel Camargo