Disseram-me que era só uma questão de tempo…
Na semana passada eu li em algum lugar algo mais ou menos assim: “É tudo uma questão de tempo”. Foi essa mesma frase que eu ouvi de todos os meus amigos e dos meus pais, é como se ela me perseguisse… Eles disseram que era só uma questão de tempo e eu acreditei, porque talvez tu fosses só mais uma pessoa que passou pela minha vida e não tardaria viriam outras pessoas que me fariam esquecer o cheiro do teu perfume, e o som da tua gargalhada. Mas a verdade é que já faz algum tempo que toda a vez que alguém me conta uma piada, eu sinto vontade de sair a correr para te contar só para ouvir a tua risada, já faz algum tempo em que o teu cheiro me persegue toda a vez que alguém passa por mim no meio da multidão da cidade, já faz algum tempo em que eu deixei de ouvir músicas daquele cantor só para ver se assim consigo apagar os teus rastos, ou pelo menos tirar de mim um pouco de ti, mas parece que quanto mais distância eu tento criar, mais próximo tu ficas.
Talvez seja mesmo uma questão de tempo, mas como outra pessoa também já me disse, “Tempo de quê?”. Tempo de eu dispensar todas as pessoas simpáticas que me aparecem, porque nenhuma delas me faz sentir coisas únicas como tu costumavas fazer? Tempo de eu ter que escolher outro cantor preferido, já que aquele só me lembra de nós? Tempo do meu coração congelar e não ter verão que o aqueça? Disseram-me que era questão de tempo, eles só não me deram o relógio para acompanhar, muito menos um manual de instruções a dizer o tanto de gente interessante que eu iria conhecer depois de ti mas que eu iria de imediato dispensar, por não ter sentido nada demais, porque os outros, realmente, se tornaram nada mais do que os outros.
O problema é que tu me fodeste e não foi na cama, muito menos por vontade minha. Não foi bom, foi sem prazer, sem toque, só me viraste as costas e mostraste como a distância de alguém que mora logo ali é capaz de magoar. Disseram-me que logo passaria e eu espero esse “passar” que nunca chega, enquanto isso vou vivendo em busca de mim e, se surgir a oportunidade, de outra pessoa que me faça tão bem como tu me fizeste. A minha vida, na verdade, não parou, mas em noites como esta eu perco toda a noção de onde estou para saber onde tu estás, esqueço-me de tudo o que existe fora do meu quarto e fecho os meus olhos só para me lembrar de como era bom ter-te aqui, dou-me conta de que não há solução para nós dois e mesmo que houvesse, não seria tão bom quanto antes, porque algumas mágoas nós simplesmente não conseguimos esconder sob o tapete.
Esta é a parte do filme que passa depois dos créditos finais e ninguém fica para assistir, talvez seja só uma questão de tempo mesmo e eu tenha pressa de mais, na verdade, pode ser essa pressa em te esquecer que faz com que eu pense cada vez mais em ti. Talvez seja só questão de tempo, então deixa-me tentar descobrir que tempo é esse, mas se esbarrares em mim na rua vê se me convidas para conversar. Porque a gente só sabe que o sentimento acabou quando olhamos nos olhos do outro e a nossa mão não treme, a fala não foge e nos damos conta de que já não existem mais borboletas no estômago, mas é como dizem… Talvez seja mesmo só uma questão de tempo.
Texto de Thais B. Verissimo