Talvez um dos maiores obstáculos à felicidade seja o medo de sofrer. Tememos enfrentar muitas dores, porque achamos que não conseguiremos suportá-las e, por essa razão, muitas vezes acabamos por trazer um sofrimento ainda maior para as nossas vidas, mantendo do nosso lado o que não nos ajuda a sermos felizes; muito pelo contrário.
Entre os sofrimentos que evitamos, encontra-se o medo de nos separarmos do parceiro, que nem mais parceiro é, que nem mais cuida de nós, que nem mais nos ama. Evitamos ao máximo um rompimento que já se tornou urgente e necessário, evitamos tomar a atitude certa, a única atitude, aliás, possível e coerente naquele momento, uma vez que manter esse alguém do nosso lado está a acabar com a nossa vitalidade, com a nossa razão de sorrir, com o nosso potencial em amar com reciprocidade.
Por mais que o outro nos ignore, nos esqueça, nos torne invisíveis, muitas vezes acabamos por tolerar demasiado tudo isso, ainda que se extenuem as nossas forças, mesmo que avisemos e avisemos de novo. Porque a gente acreditou tanto, a gente investiu tudo o que tinha, a gente se entregou de forma tão transparente e por inteiro, que agora a gente quer muito dar certo no amor. Não queremos aceitar a falência daquilo que tomou tanto da gente e que agora dói demais.
E, assim, vamos insistindo em manter nas nossas vidas exatamente quem deveria ficar bem longe – quem já teve a chance de fazer parte de nós mas não aproveitou, quem nunca fez a menor questão de lutar por nós ou mostrar que nos merece ter presente na sua vida. E assim vamos aumentando a nossa dose diária de dor e de sofrimento, exatamente porque pensamos estar a evitar a dor maior – a da separação.
É preciso deixar ir. Deixa que vá quem apenas fica por comodismo, quem fica como peso, como bagagem inútil, quem só recebe e nada devolve, quem não nos percebe, não nos enxerga, não nos espera para nada, por nada. Manda embora da tua vida quem mente, quem pratica o tanto faz. O sofrimento por quem vai embora é doloroso, mas libertador. É preferível a dor do rompimento que aos poucos acalmará do que um sofrer diário por medo de arriscar um outro caminho para a felicidade. Dor sem fim ninguém merece, muito menos tu.
Texto de Marcel Camargo