E se de repente te tirassem o chão?
E se de repente olhasses em volta e só conseguisses ver e sentir um vazio incalculável? Como reagias se perdesses o teu chão?
Eu perdi o meu. Deixei-o entrar na minha vida, apesar de todos os avisos. Aquele chão era dono dele só e de mais ninguém. Mas foi meu, em tempos. Habituei-me a ele nesse curto tempo, e eu creio que ele a mim também, porque nunca saiu da minha beira. Roubou-me beijos, carinhos, abraços, lágrimas, tudo. E deixou-me.
Perdi o meu chão. O meu amparo, o meu porto de abrigo. Quando eu deixei que entrasse na minha vida nunca pensei o quão difícil seria deixá-lo sair dela. Com ele, era tudo mais fácil. Mas eu perdi-o.
Perdi o meu chão. Perdi-o por erros cometidos e desnecessários, por limites não estabelecidos mas que foram ultrapassados e por sentimentos não correspondidos e abusados. Mas se não houvesse amor não haveria ciúme, nem planos, nem vontade, nem desejo, nem medo de solidão, nem sequer corações magoados. Se não houvesse amor, eu já tinha desistido. O mais incrível é que não vai passando, esta saudade que não diminui com o passar do tempo. Porque tudo nele tinha um gostinho de “quero mais”.
Hoje aqui estou, sem chão, com um vazio no sítio onde deveria estar ele para preencher. Penso, será que ele não tem saudades minhas? De me deitar com ele, a olhar para as estrelas e a pensar onde ele me iria levar. Aquele chão. Aquele chão maldito mostrou-me muita coisa, despertou coisas que eu não sabia que tinha em mim, deu-me mais alegrias do que a minha alma conseguir suportar. E para serem completas, teriam de ser divididas com ele. Não faz sentido se eu não souber que ele está lá comigo.
E tu, o que farias se perdesses o teu chão?
Eu perdi o meu chão. E hoje, de nós os dois, quem sofre sou eu.