É só uma questão de tempo
Quem a vê assim a sorrir, não sabe das dores que ela sente. Quem a vê a chorar, não sabe da força que ela tem. Uma tatuagem escondida pela roupa e, outras tantas, guardadas no coração. E lá vai ela, enfrentar o mundo. E lá vai ela, colecionando sonhos. A lembrança daquele amor que prometeu ser para sempre. As dúvidas de quem ainda não vive a realidade que um dia planeou. Lá vai ela tentar provar, a cada dia, que pode ir mais longe. Lá vai ela tentar ser feliz do seu jeito. Na bolsa o batom, o espelho e as lembranças. Ela não assume, mas, na verdade, está à procura dele. Ele ainda vive distante, mas gostaria de já estar ao lado dela. Gostaria que ela já fosse sua. Só sua. E como tem sido difícil esse caminho até encontrá-la! Quantas vezes ele tentou imaginá-la noutra mulher e viu essa imagem a desmaterializar-se. Quem o vê assim a beber, não sabe das noites em claro. Quem o vê assim confiante, não sabe do mar de incertezas. E lá vai ele fingindo que não tem sentimentos. E lá vai ele cumprindo a velha missão de ter que ser sempre tão forte, tão dono da situação, tão homem. Vai ter que provar para todas que não faz parte de uma fórmula pronta. Vai quebrar a cara sem ter a chance de chorar. Lá vai ele. Os braços torneados escondem o coração mole. A voz firme esconde a vontade de ouvir baixinho. Lá vão eles. Tão diferentes e tão parecidos. Procurando-se um ao outro noutros corpos. Sentindo aquele vazio que ainda não conseguem explicar. A autoestima subindo e descendo como uma montanha russa. Da euforia à tristeza em poucos segundos. A adrenalina da juventude a correr nas veias. O frio na barriga da solidão a trazer o medo. O vento da liberdade a soprar novas verdades. Lá vão eles. Ainda não sabem, mas a hora e o local do encontro já estão marcados. A hora e o local do dia em que irão juntar os cacos que restarem dos seus corações. Do dia em que, finalmente, tudo fará sentido. Eles nasceram um para o outro, mas ainda não sabem disso. Não sabem, mas sentem. Ela é o rosto que ele imagina nas noites em claro. Ele tem os braços que ela imagina ao apertar o travesseiro. Eles vão encontrar-se. Uma hora ou outra, esse tal de amor vai apertar o laço. E, pelo que dizem, o nó do amor não há quem desate. É só uma questão de tempo.
Texto de Rafael Magalhães