Ela é perfeita, mas não sabe.

Geralmente, eu chego a casa cansado. Atiro as minhas roupas para o chão do quarto e sento-me no sofá com aquela cara de acabado. Ela chega, grita atenção e fala como uma doida de como foi o seu dia. Eu fico entre um “uhum” e outro. Entre uma risada e outra. Mas fico com olhos e ouvidos bem atentos, como um menininho a ouvir uma história de uma heroína que salvou a cidade e ainda se lembrou de passar no supermercado para comprar o meu iogurte preferido.

Ela faz-me massagens quando eu peço. Mas só aceita fazer caso eu prometa fazer a ela também. Ela trabalha, estuda, inova no seu visual, faz exercício, prepara a comida e ainda arranja tempo para me amar e me pedir para levá-la ao cinema. Às vezes, eu penso como é louco o amor. No começo, eu passava noites em claro só para descobrir a melhor forma de conseguir ter um encontro com ela. E, hoje, ela é quem me convida. No primeiro encontro, eu passei quase duas horas inteiras a arranjar-me. Vesti a minha melhor roupa e encharquei-me com o meu melhor perfume só para agradá-la. Hoje, ela acha-me lindo com uma simples camisola ou suado após o futebol.

Ela espera por mim. Ela fica ansiosa para me ver e liga-me só para dizer que está com saudades. Ela diz que me ama e que morre de atração por mim. Ela faz-me carinhos e arranhões que nunca tive e beija-me o corpo inteiro. Quando discute comigo por ciúmes é por medo de me perder.

Ela é perfeita, mas não sabe.

O meu lado possessivo até acha isso bom porque no dia em que ela perceber que ela é dez mil vezes melhor do que qualquer mulher nesse mundo, vai querer outro rapaz dez mil vezes melhor do que eu.

E há vários homens perfeitos por aí.

Mas não sei como, ela encantou-se pela minha barba mal feita, pelas minhas piadas sem graça e pelos meus olhos cansados.

Bendita seja a minha sorte.

Até hoje, não sei o que é que eu falei para ter roubado a atenção dela. E, se um dia descobrir, falarei o dia inteiro. Trato-a como uma rainha tendo a certeza de que não sou merecedor de um lugar no seu altar. Mas esforço-me tanto que ela acha graça até das minhas imperfeições.

Tu já paraste para pensar na sorte que tens em ser o sonho da mulher dos teus sonhos?

Texto de Hugo Rodrigues

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