Estado civil: solteira e completa
Tu já passaste dos trinta anos e, ao contrário das tuas muitas amigas que já ostentam uma aliança brilhante na mão esquerda, nem namorado tens. E pareces estar bem longe disso, né? Já que não tens passado mais do que pernoites com os homens – ou mulheres, porque não? – com quem tens saído.
E agora, hum? Será a hora de criar um perfil num daqueles sites que prometem maridos sob encomenda? Será o momento de deixar os mínimos critérios de lado e começar uma relação de merda com o primeiro homem que surgir na tua vida? Será que a única alternativa que te resta é dar uma chance àquele homem que é filho de uma amiga da tua mãe?
Ou tu, de uma vez por todas, vais perceber que essa história de “ficar para a titia” não passa de um fantasma inventado por gente que possui cérebro de ervilha e que tem a bizarra mania de condicionar e reduzir a felicidade a rituais opcionais? Hum?
Apesar das perguntas – “Então, onde está o namorado?” e “Quando vão casar?” – que as tias fofoqueiras costumam metralhar em todos os Natais e churrascos de família, o casamento não é uma etapa obrigatória na vida dos seres humanos, informo isto para o teu bem e com um leve medo das paneladas que irei levar depois da publicação deste texto.
Se tu continuares a acreditar que só estarás completa quando começares a escrever “casada” no espaço destinado ao “estado civil” das fichas que preenches, não tardará muito – como já vi acontecer muitas e muitas vezes! -, dirás “sim” a qualquer homem, com todas as más consequências que isso acarreta. Ou sofrerás, em silêncio, nas tantas vezes em que receberás convites de casamento. Como se estivesses a ficar para trás no jogo da vida. Mas não é um marido que fará com que tu avances no tabuleiro da existência, acredita!
Sabes o que eu percebi? Percebi que o casamento, em muitos casos, é um ato que ocorre para agradar à família, à sociedade. O que não faz sentido algum, certo? Ou é a tua mãe que dormirá, todos os dias, ao lado dele? Ou é a tua tia que vai ouvi-lo roncar feito um trator?
“Minha família merece isso!”, disse-me uma amiga, segundos depois de me informar que subiria ao altar. E ela, certamente, não foi a única que se casou só para se livrar de uma pressão social e fugir da recorrente cobrança familiar. Muitas fazem isso.
Antes de casar, pergunta-te: “Estou a fazer isto por mim e só por mim?”. Pois casar para os outros é o maior dos erros.
Outra coisa que me deixa inquieto: muitas pessoas têm a mania de encarar o namoro como algo transitório, uma ponte que deve necessariamente terminar num casório para fazer o mínimo sentido. Como se namorar tivesse que ser – sempre e obrigatoriamente – um passo rumo ao altar. Porque não podemos namorar para sempre? O que há de errado nisso? “Minha filha, vocês já estão juntos há dez anos e não pensam em casar?”, perguntarão de olhos arregalados, como se um papel tivesse o poder de mudar alguma coisa nas atitudes reais de um casal. Aliás, até pode mudar algo; mas fará alguma diferença naquilo que o coração sente? Fará com que o casal comece a tratar-se de maneira mais respeitosa? Um “sim” dito ao padre deixará tudo mais sério e menos sujeito a traições? Não, não acho. Uma relação é algo muito maior do que o nome que damos a ela.
“Antes só do que casada por pavor da solidão e por achar que casório é uma obrigação”, que tal esta versão do velho ditado?
Texto de Ricardo Coiro