Olá, tudo bem?
Eu espero que sim.
As coisas por aqui têm sido complicadas, mas estão bem melhores. Pela primeira vez, em muito tempo, eu estou bem. Bem de verdade. Às vezes eu ainda me incomodo com certas coisas, mas aquela saudade já passou. Foi-se, como tu: de uma vez só, como arrancar um penso rápido. A única diferença entre ti e todos os sentimentos negativos que tu deixaste foi que eles, pelo menos, não me deixaram cicatrizes. Tu sempre foste o motivo de cada uma das minhas dores, fossem elas de barriga ou de cabeça. Tu sempre foste o meu motivo e a minha motivação.
Eu gostei de ti. De verdade. Eu gostei de ti mais do que eu imaginei que gostaria de alguém; mas eu só percebi que a nossa história só existia em mim quando tu resolveste viver a tua vida, e abandonar a corda bamba. Vi-me pendurado entre a vida e a morte; o céu e a terra. Tu sempre foste o céu para mim – maravilhoso, surpreendente, assustador, inalcançável.
Eu demorei algum tempo para aprender que o amor não é assim – o amor está mais para a terra do que para o céu. O amor é muito mais palpável do que aquilo que tu me davas: um montão de nada, um montão de esperança, um montão de dúvidas. Sentimentos são certezas, e não esmolas; e eu sempre me vi a implorar por mais um pedaço da tua atenção.
Até acredito que tu, do teu jeito, sentiste algo por mim; mas algo que não foi o suficiente para te fazer ficar. Mas olha, tudo bem. Eu não te culpo. Na verdade, eu não culpo nada além do acaso; não posso obrigar-te a gostar de mim do mesmo jeito que eu te idolatrava. Eu nunca te pude obrigar a ficar, mas eu tentei convencer-te. Tentei com mensagens, com ligações, com textos como este. Eu escrevi muito para ti – como eu já disse antes, tu és pura arte e inspiração para mim. Tu és tudo o que eu mais quis.
Hoje, eu seguro as pontas por aqui. Continuo com muitas daquelas manias de antes, mas algumas eu deixei de lado, porque me faziam lembrar demasiado de ti. Tu lembras-te de como eu gostava de usar sempre aquela sweatshirt cinza, mesmo que estivesse calor? Então, eu deitei-a fora; ela não fazia mais parte de mim desde que tu te foste embora, porque nela ainda morava o teu cheiro. Aquele perfume docinho, com um toque de café e sabedoria.
Ah, às vezes eu sinto falta das nossas conversas. Sinto saudades de quando passávamos umas boas horas a discutir sobre os temas mais aleatórios. Era exatamente isso: nós tínhamos assunto. Nós podíamos ter perdido mil e um dias só a conversar – porque também, ah, a tua voz era uma delícia de ser ouvida. Reescrevendo a frase, eu poderia passar mil e um dias só a ouvir tu a falares.
Não sei se tu te interessas ainda por saber como eu estou. Na verdade, eu gostaria de saber se eu ainda corro pela tua mente; porque tu passeares pela minha cabeça ainda é uma constante. Eu sei que tu existes quando não vejo nada, quando só há silêncio. E saber da tua existência faz-me feliz.
E, se tu queres saber, eu ainda não arranjei ninguém. Esbarrei em alguns sorrisos lindos por aqui, mas nenhum deles era como tu. Um deles, em especial, mexeu muito comigo; mas nenhum foi capaz de excitar os meus instintos mais profundos como tu fazias. Na cama e na biblioteca. No motel e no museu. Nus, só vestidos com os melhores argumentos e contos de fada. Esses éramos nós os dois; um casal mais provável do que a Teoria da Evolução. Mesmo assim, probabilidades são só chances de algo acontecer – e tu nunca quiseste que nós acontecêssemos de verdade. Tu nunca quiseste que eu fizesse parte da tua vida; e enquanto isso a minha vida era só um amontoado de ti.
Escrevo esta carta porque acho essencial que tu saibas que alguém gostou de ti. Muito; gostou de ti para caralho. Quero que tu saibas que tu foste muito especial para alguém. Tu já foste o motivo de muitos sorrisos idiotas ao olhar para o telemóvel, muitas conversas com amigos em cafés, muitas madrugadas desesperadas por atenção. Tu já foste a única coisa que alguém quis no mundo. Tu já foste importante, desejado, esperado. Tu já foste amado por alguém, fica a saber disso.
E, se por algum motivo, algum dia, alguma outra pessoa partir o teu coração, eu espero que tu voltes a ler estas linhas. Porque tu mereces saber que tu és incrível. Espero que tu saibas que tu és lindo; e mereces alguém tão lindo quanto tu, em alma e coração. Tu mereces muito mais do que eu podia dar-te – só uns poemas escritos à pressa e umas risadas à toa. Eu nem combinava contigo, hoje eu percebo isso. Nós não temos nada a ver; o céu e a terra. Eu achei que, se eu voasse bem alto, chegaria até ti. Mas não é verdade.
Então, faz-me um favor: levanta a cabeça, seca as lágrimas, segue em frente. A vida é muito mais do que uma pessoa qualquer a brincar com o teu coração do mesmo jeito que tu brincaste com o meu. A vida – e eu – só te deseja o melhor.
Fica a saber que a cada sorriso que tu dás, não importa onde, o meu coração bate mais feliz.
E, mesmo que tu não te importes (ou nunca te tenhas importado) comigo ou com o que eu penso, simplesmente sorri. A cada sorriso teu, o mundo fica mais bonito.
Eu não sei porque é que tu nunca decidiste ficar. Eu não sei o que é que eu te fiz, ou o que eu deixei de fazer. Eu não sei se tu só querias brincar comigo, mas fica a saber que eu me apaixonei de verdade. Eu não sei o porquê de tanto silêncio, por tanto tempo. Eu não sei de nada. Eu só sei que, pela primeira vez, eu estou bem.
E espero que tu também estejas.
Texto de Luiz Menezes