Estou com saudades dela – porque há amores que nunca se vão…

A verdade é que não está fácil. Ontem descobri que o amor da minha vida encontrou o amor da vida dela. Quando vieram as conversas sobre a aliança dourada, eu quis desconversar, mas não houve maneira, os meus amigos disseram logo alto: ‘Esquece de vez. Ela vai casar’.

Palavras não são um revólver, mas matam tanto quanto um. Não sejamos hipócritas, o sorriso de quem a gente ama também nos deixa destruídos num canto. Basta que não tenha sido ao nosso lado que os lábios, felizes, se abriram. E não entro em exageros de depressão e o que for. Falo de perder o chão, as estribeiras, entender o que é dor.

Depois da notícia procurei o meu altar e sequei duas garrafas de whisky. Não encontrei alívio algum. Ouvi umas dez ou cem músicas. Nenhuma pareceu dizer o que eu queria dizer, o que eu queria escrever, o que o meu coração precisava gritar.

Se eu começar a falar de intimidade, aí é que a coisa fica feia. Ela transformou um menino num homem. Dizia-me o que queria e como queria. Ela é dessas que não tem pudor. Faz da intimidade o seu templo sagrado que deve ser. De fantasias mil, eu já tive ao meu lado a mulher mais marota e independente que já se viu; e se verá.

Foi tanta coisa ao lado dela que a minha cabeça trai-me: começo a achar impossível alguém preencher todo o vazio que ficou na partida. Nós já jogamos à bola na praia; eu – sem ciúmes – já incentivei ela a diminuir a saia. Nós já bebemos cerveja juntos pelo gargalo. Também fomos juntos viajar de carro. Ela nunca fez teatro, mas numa das nossas viagens encenou que desmaiou. Nunca a vi a rir tanto como quando eu gritei: ‘Pelo amor de deus, amor: acorda! Vá lá, acorda!’.

Falo por mim: ela é dessas que tu dás corda a partir de um só sorriso. Atira o cabelo para o lado e pede-te o isqueiro. Quando tu menos percebes, darias o mundo inteiro para mais cinco minutos a ouvir cada palavra que sai daquela boca. Ainda não sei se aquela área de fumadores fez parte do melhor ou o pior dia da minha vida. Ainda não sei o que vale a pena nesta vida. Porque é que a vida nos apresenta pessoas tão distintas e marcantes se logo depois as vai tirar de nós à força? Talvez eu ainda precise entender que felicidade é o beijo que se dá no presente, não planos de futurismos baratos.

Todos os dias eu ainda lembro que ela é do tipo que inspira só por respirar. Cujas palavras formavam frases que me queimavam o juízo. Dessas que têm no cabelo o cheiro que eu queria sentir ao deitar. A pele que eu queria sentir com a palma da alma quando acordasse. A voz, meu Deus, dessas que eu queria guardar e fazer música dentro de mim. Ela é assim: linda. E sobrava tanto que quando eu encostava nela, sentia-me lindo também. E aqui falo de beleza natural, que sai dos poros. Ela era justa. Podia gritar, podia chorar, podia implicar; mas eu viveria toda a minha vida e morreria ao lado de uma pessoa como ela. Só que não deu. Num desses dias esquisitos, desaparecemos. Ela foi para lá. E eu vim parar aqui.

Estou com saudades dela.

Texto de Fábio Chap

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