Sabes de uma coisa? Nunca entendi muito bem o que significa guardar rancor das pessoas. Acho que é porque nunca consegui de facto executar tal proeza. Ficar com raiva de uma pessoa por mais do que dois dias? Pff. Não sei nem o que isso é. Quando alguém me magoa eu fico a repetir para mim mesmo ”Deixa de ser idiota, não perdoes, não perdoes, não perdoes. Olha só o que te fizeram, olha isso, OLHA ISSO! Meu Deus. Se tu perdoares vai ser um idiota. Ok. Eu sou um idiota.”. E eu perdoava. Claro que perdoava. Perdoava mais do que um santo da paróquia. Perdoava muito, demasiado, logo depois daquele sorriso fofo e de um “Desculpa-me, vá lá…”.
Sabes, eu já me martirizei muito por causa disso. Por causa desse meu jeito de não conseguir ficar muito tempo a sentir raiva, rancor, ou até ódio das pessoas. Por deixar-me levar por desculpas que sei que na sua maioria não são sinceras, e por acreditar sempre que as pessoas podem mudar – mesmo que elas não queiram. Já escutei inúmeras vezes o quão “trouxa” eu sou, e o quanto as pessoas se aproveitam disso.
“Tu decepcionas-te sempre com as pessoas por acreditares demais. És mesmo trouxa!”. Mas sabes o que eu descobri? Isso é lindo demais. Maravilhoso. Raro. Ser trouxa é uma das melhores coisas que existe!
O trouxa tem uma pureza dentro de si que ninguém é capaz de tirar. Nenhum canalha, nenhuma decepção, nenhuma mágoa.
É claro que te vão magoar. Sinto dizer isso de forma tão abrupta, mas o teu coração vai ser destroçado muitas vezes. Mas devemos atirar-nos de cabeça nas oportunidades sem nos importarmos com as consequências. Se tu gostas de alguém, perdoa, insiste, vai até ao fim. Porque se não der certo, pelo menos tu poderás dizer que tentaste de todas as formas possíveis. Não há nada pior do que decepcionar-se com alguém que gostamos muito e só por orgulho não perdoá-la.
Muitas vezes perdemos alguém que gostamos porque colocamos na nossa cabeça que ela não merece o nosso perdão. Mas e se fosses tu quem tivesse errado? Quem não erra? (é claro que, ainda assim, obviamente tem que haver um limite de perdão).
Eu não gosto de perder pessoas. Em hipótese alguma. Perder pessoas dá-me um sentimento de vazio. Um sentimento de estar um pouco oco aqui dentro, sabes? Gosto do meu coração cheio, a fazer festa. Sabes, toda a gente erra um dia. Às vezes fazemos coisas que não gostaríamos de ter feito, e arrependemo-nos. E não existe nada melhor do que ter alguém que acredite em ti. Alguém que acredite que tu podes mudar. Alguém que diga ”Eu perdoo-te, porque o que eu sinto é maior do que os teus erros.”. E eu sou esse alguém. Eu acredito nas pessoas. Eu acredito que erros são somente erros (e todos os cometem). Eu acredito que guardar rancor não te faz mais esperto do que ninguém, só te faz mais um idiota. Um idiota que prefere perder uma pessoa que ama do que perdoá-la.
Eu sou trouxa, sim! Mas se tu não aproveitares as chances que eu te dou, fica sabendo que não vais tê-las para sempre. Porque um dia eu canso-me. Ah, canso-me mesmo.
Texto de Isabela Freitas