Nunca pensei em mim e em ti como um nós até hoje, ou se calhar até àquele dia em que senti que precisavas de um abraço mais apertado e ninguém estava ao teu lado para o dar. Um abraço, algo tão pequeno, mas na verdade tão grande, que muitas vezes carece de honestidade. Então decidi ser honesta contigo e não te largar. Afinal é para isso que os amigos servem (ou deveriam servir). Mas, se queres que seja ainda mais honesta contigo, não te vou aldrabar com discursos hipócritas sobre a ausência de segundas intenções naquele abraço apertado. Mesmo que eu não soubesse ainda, naquele abraço estavam todas as segundas intenções que possas imaginar: confortar-te por uns minutos para depois talvez te confortar por uns meses e depois por uns anos e, quem sabe, toda a vida. Arrisquei-me mesmo a ser e fazer alguém feliz!
A verdade é que as segundas intenções cresceram tão rápido quanto o desejo, o interesse, a fome de ti e da tua presença. Quando dei por mim era de madrugada e tínhamos estado a noite toda acordados a fazer as duas coisas mais escandalosas de que alguma vez ouvi falar: rir e conversar. Rimos por tudo e por nada. Conversámos sobre tudo e sobre nada. E muitas mais noites vieram e com elas veio um beijo, um toque, um olhar diferente que não saiu mais de mim. Tornaste-te numa tatuagem que não me arrependi de fazer. Ninguém sabe dos nossos momentos perdidos um no outro, vivemos numa bolha só nossa sem muitas palavras profundas ou declarações óbvias de compromisso. Só que um ramo de flores e uma carta de amor não se tornou cliché por acaso. É bonito e ridiculamente honesto.
Quero tanto dizer-te isto, podia até jurar-te que era capaz de explodir se não o dissesse, mas nós nunca fomos destas coisas. Olha, que se dane! Gosto de ti, e então? Acho que comecei a gostar de ti logo naquela primeira noite em que estivemos juntos e todos os dias gosto mais e mais de ti. Espero que não te assustes, que não fujas, que não decidas que somos apenas temporários, mas se o fizeres também nunca foste o tal e eu nunca fui a tal. Quero poder amar-te (sim, amar-te, e não apenas gostar de ti) sem medos, sem dúvidas, sem segredos. Deixas-me?
Texto de Raquel Simões