Homem apaixona-se fácil, o que ele tem medo é de amar…
Mulher não se apaixona fácil, mas não tem medo de amar.
São dois fusos diferentes. São duas realidades em desacordo.
Homem entrega-se logo para um relacionamento, não mede esforços para ficar com alguém, renuncia à sua vida e aos seus prazeres mais essenciais, altera a sua rotina. Na paixão, a sua generosidade é corajosa. Nada incomoda, nada atrapalha, nenhum defeito é contabilizado.
A sua complicação é quando passa a amar, quando larga a fase da aventura e do desconhecimento dos meses iniciais para fazer planos juntos. Daí ele estaciona, emperra. Tanto que sofre horrores para dizer o primeiro “eu amo-te”. Tanto que sofre horrores para misturar as escovas de dente. Tanto que sofre horrores para dividir as prateleiras. É como se não pensasse até àquele momento.
Na paixão, ele não avalia as separações anteriores, as suas falhas de sistema, as suas fobias de convivência. Explode por intuição, desmemoriado. Mas é só vir o amor que ele recua, entra em julgamento, contrai o olhar e economiza as palavras. É ao consolidar os laços que ele se confunde, acumula receios e inventa desculpas.
A mulher é exatamente o contrário, e bem mais coerente. Leva tempo para se apegar, questiona logo de início, é desconfiada na paixão, cética na paixão, contida na paixão. Sofre passo a passo. Quando descobre que gosta realmente, é que se liberta e derruba as suas defesas. É ao realizar projetos e formular expectativas que ela se solta e se desinibe. Para ela, o amor acontece mais naturalmente do que a paixão. Paixão é choque, dói; amor é costume, cicatriza.
Homem diz “Não quero envolver-me”. A mulher diz “não quero apaixonar-me”.
Homem mergulha para reclamar da água. A mulher experimenta a água antes de entrar.
Homem tem primeiro certeza para depois duvidar. A mulher duvida até cansar a sua cautela.
Homem oferece tudo para retirar gradualmente. A mulher esconde tudo para oferecer aos poucos.
Homem mostra-se desembaraçado e, em seguida temeroso. Mulher apresenta-se temerosa e, em seguida, desembaraçada.
Homem decide rápido para mais tarde desmanchar lentamente a sua convicção. Mulher demora a decidir-se, mas quando decide não volta atrás.
Homem é paixão. Mulher é amor.
Texto de Fabrício Carpinejar