Não quero um amor “mais ou menos”
Não quero um amor para, finalmente, conseguir mudar o meu estado de relacionamento do Facebook. Quero alguém que se contente, sem bater os pés, com um sincero e respeitoso pacto privado, selado à base de cafunés ilimitados, beijos que miram a pontinha do nariz e noites inteiras sem qualquer necessidade de meias-verdades.
Não quero um amor do tipo que, no Instagram, e somente graças a filtros mágicos, pareça quente para toda a gente. Quero um amor fervente de verdade, que aqueça a minha alma – e não a alma dos que insistem em tentar cuidar da minha -, os meus pés de iceberg, a minha pele que vive com saudade de arrepiar e, principalmente, o meu coração que tem andado a achar tudo gelado.
Não quero um amor apenas para dar um stop nas perguntas idiotas que me fazem em jantares de família. Quero um amor que, sem pudores e ao pé do meu ouvido, não hesitará em fazer afirmações capazes de bambear as minhas pernas, enquanto os fofoqueiros, todos eles, certamente estarão demasiadamente ocupados a falar mal da vida alheia – e da minha.
Não quero um amor desses que acham que o amor, para ser inteiro, precisa de aliança dourada, véu e grinalda. Quero um amor que me faça querer dizer “sim!” todos os dias e que motive o brilho dos meus olhos mesmo quando estiver a chover canivetes, e não arroz. Quero um amor que me peça em casamento sempre que os meus dentes estiverem sujos de Nutella. Quero um amor que nem pense em pedir o divórcio quando o furacão “El Chico”, abruptamente, tomar conta de mim. Quero um amor que passe mel em todas as minhas luas. E também sobre o meu corpo; por que não?
Não quero um amor que me dê mais tristezas do que alegrias. Quero um amor que me faça querer viver, o máximo possível, para amá-lo – amando-me também – até onde o meu fôlego permitir.
Não quero um amor para me servir de par apenas nas alegrias e em noites nas quais os champanhes fazem trovejar. Quero um amor que, sem soltar a minha cintura, não me deixará desistir da dança; e da vida. Quero um amor que saiba ser a segunda voz quando eu quiser cantar, mas que, quando perceber que estou prestes a desafinar, consiga calar-me com uma música que me faça ter ataque de riso. E de alegria.
Não quero um amor rico e que me ofereça presentes caros. O que quero, apenas, é um amor capaz de me fazer sorrir, com alívio, quando eu finalmente perceber que esse monte de coisas caras e materiais, quando comparadas ao valor do amor e à vontade de enriquecê-lo com boas memórias, não têm valor algum.
Não quero um amor mais ou menos. Quero um amor que me faça, sem pensar meia vez, doar a minha boca inteira. E o meu sangue, caso o coração do meu amor precise dele para continuar a bater. E a amar-me. E a bater. E a amar-me…
Texto de Ricardo Coiro