Neste novo ano, eu espero muito é de mim mesmo
Chegou ao fim. Acabou. O ano virou a esquina. Não volta nunca mais.
Assim como as oportunidades perdidas, os beijos não dados e as palavras não ditas que nele ficaram e nele naufragaram no limbo do passado.
Para deixar saudade. Para deixar arrependimento. Para deixar alívio. Para deixar.
O que foi feito, foi feito. O que foi sentido, foi sentido. O que foi vivido, foi vivido.
O que não foi, virou poeira.
E da poeira, virou pretérito.
E do pretérito, virou esquecimento.
Enquanto um ano dá adeus, o outro já nos atropela.
E ele chega sem pedir, ele chega sem permissão, ele chega sem bater na porta.
Ele chega sem que tenhamos tido tempo de engolir o último.
Sem pausa, sem receio, sem férias.
365 chances velhas são perdidas para que 365 novas sejam oferecidas.
E sabes o que eu espero do ano novo?
Eu não espero nada.
Eu espero muito é de mim mesmo.
Eu espero dar sem me preocupar se vou receber.
Eu espero ser para o mundo sem me preocupar se o mundo me será de volta.
Eu espero ser a melhor versão de mim mesmo.
Eu espero ser a pessoa que o meu cão acha que eu sou.
Eu espero que os meus braços sejam grandes o suficiente para abraçarem as oportunidades que a vida me atirar.
Eu espero ser sábio para conseguir dar valor ao que realmente for de valor e me desligar do que não.
Eu espero ser esponja para o que for amor, luz e calmaria.
Eu espero ser repelente para o que for nebuloso, amargo e baixo.
Eu espero ser cura. Mas também vício.
Eu espero ser santo. Mas também atrevido.
Eu espero ser céu. Mas também inferno.
Eu espero ser mar. Mas também lava.
Eu espero ser muitas coisas, mesmo sendo só eu mesmo.
Eu espero resolver as questões que deixei em aberto.
Eu espero fechar os ciclos de ontem para dar espaço aos de amanhã.
Eu espero deixar o passado passar.
Eu espero fazer as pazes comigo mesmo.
Eu espero deixar-me carregar pela correnteza da vida.
Eu espero que existam segundas chances.
Mas espero não precisar delas.
Eu espero seguir em frente.
Mas espero saber que o que importa é a direção e não a velocidade.
Eu espero saber esperar.
De mim. Por mim.
Assim eu espero.
Texto de Marina Barbieri