Nós tínhamos tudo para dar certo.
Tu deste-me um beijo na testa e eu voltei para casa com medo de que fosse o último. Medo de que tu, uma das minhas maiores alegrias nos últimos dias, senão a única, desistisse de mim. E pior, sem nem sequer dar tempo de pensar no que fiz exatamente de errado. Pensei em tantas coisas que nem faziam assim tanto sentido. Tive medo de que o teu sorriso se fechasse para mim, que o teu corpo não mais tocasse o meu, que não mais sentisse as tuas mãos nas minhas. Apesar de insistir em te ligar, tu não atendias, dizias que o telemóvel estava em silêncio e que por isso nem te apercebeste de ele tocar, mas no fundo eu sentia que tu me estavas a aconselhar a não te ligar mais. Até te peço desculpas pelo meu desespero, acho que ele não me deixou perceber que tu não estavas mais a fim e mesmo que tu não tenhas tido coragem para ser mais direto e sincero comigo e tenhas escolhido o caminho da covardia, estava estampado na tua testa que tu estavas a desistir de tudo. Eu só não entendia o porquê.
Eu não mandava no que sentia por ti, mas eu sentia que não devia ficar e, ainda assim, adiava a minha partida. A minha vontade, confesso, era de conseguir achar-te porque encontrar-me sem ti no começo estava a ser difícil demais para mim. Confesso que passei um tempo a tentar surpreender-te mas nada te impressionava e só agora eu percebo que me deixei levar pela ingenuidade ao insistir que tu me olhasses outra vez, sem sequer perceber que o que tu querias mesmo era evitar-me. Passei um tempo a investigar a tua vida na internet e os sorrisos que tu publicavas consumiam-me como uma saudade que a gente sente de alguém que sabe que nunca mais vai ver.
Sabes, eu tentei fazer-te ver que as nossas brigas eram por motivos insignificantes e que nós perdíamos tantas madrugadas a discutir por nada. Tentei avisar-te de que justificarmos os nossos erros com os erros do outro não iria levar-nos a lugar nenhum se a gente não se conseguisse entender, reconhecer os nossos erros e esforçar-se para os corrigir. Eu não vou mais pedir-te para nós ficarmos bem porque eu sei que não vai ficar. Não tem como ficar. Não quero pedir-te que voltes porque mesmo que tu estivesses ao meu lado, agora, não teria sentido algum. Eu não me importo mais se tu estás certo ou não. Não quero mais pedir-te um tempo porque nós perdemos tanta coisa e tanta gente à espera que aconteça algo e nada acontece. Não te quero mais do meu lado de cara fechada para os meus amigos, muito menos para mim. Não quero mais dar tanto de mim para ficar tudo bem, nem me esforçar para sair contigo porque nada disso deveria exigir esforço, deveria ser algo sincero e natural para mim. Não quero mais pressionar-te para nada e nem quero ter que dizer mais uma vez que do jeito que as coisas estão a ir elas não vão muito longe. Também não quero mais iludir-me e achar que sem ti eu perco o rumo porque os caminhos para os quais tu me levas já não são mais bons para mim. Não quero mais ouvir tu repetires as mesmas desculpas pelos mesmos erros. Acho melhor poupares-nos das mesmas conversas também. Não vou mais contar-te sobre como correu o meu dia nem quais foram as minhas vitórias. Não vou mais buscar a pizza na porta, nem levar a toalha que tu esqueces sempre quando entras para o banho. E fica tranquilo, eu não vou fazer-te ”perder mais o teu tempo” com as minhas loucuras, com os meus ciúmes e a minha saudade.
Eu agora entendo que apesar de nós parecermos ter tudo para dar certo, faltava muita, mas muita coisa mesmo para nós acertarmos. Dizem que nós precisamos sonhar porque só assim é que as coisas acontecem, tu não tens noção do tanto que eu sonhei para chegar o dia em que tu acordasses e me percebesses de uma vez por todas, para que tu finalmente caísses na real de que eu não iria ficar aqui para sempre a dizer-te o que fazer para tu não te perderes de mim. Tu não me percebeste. Perdeste-te. Perdeste-me.
Não vais ter mais a minha notificação no telemóvel a pedir a tua atenção. Não vai dar para marcar-te no instagram naquelas publicações de lugares bonitos para conhecermos juntos, nem nos comentários sobre aqueles assuntos que nós tínhamos tanto em comum. Não vou mais tentar explicar-te as coisas que sinto, nem dizer-te que vai ficar tudo bem porque a verdade é que tu esforças-te sempre para que não fique. Não vou mais dizer-te o que tu deves fazer, nem ficar a lembrar-te o que tu falaste de errado, porque já cansei dessas voltas que a gente dá e desses assuntos que se repetem. Não quero mais que tu me entendas porque eu nunca te entendo, sabes? Eu não entendo porque é que tu insistes tanto em ser a pessoa idiota de sempre ao ponto de ignorares quem tanto te quer, brigares quando está tudo bem, virares as costas quando finalmente parece tudo tão certo. Nós tínhamos tudo para dar certo mas só conseguimos fazer dar errado. Parece tão errado ficar parado e deixar que a distância aumente entre nós, mas também não parece nada certo para mim continuar a lutar em vão para ficarmos juntos.
Não te aceito mais porque tu não me acrescentas em nada. Tu não somas, apenas me consomes. Tu não me aquietas, não me preenches. Não te aceito mais porque não existe começo, nem meio, nem fim para nós. Não existe solução, nem motivos para continuar. Eu tentei, tu sabes. Esforcei-me e tu não podes duvidar disso. Eu não quero mais apressar-me para ter que te acompanhar, porque parece que tu vives a correr de mim. Quem sabe quando tu tentares virar a nossa página e resolveres escrever uma nova história, tu percebas que entre as linhas que tu escreves agora existe um pouco de mim, e mesmo que eu já me tenha tornado passado tu vais perceber que servi para te lembrar que notar alguém só quando esse alguém não está mais do nosso lado, dói e incomoda para caralho. A vida vai continuar e junto com ela vou carregar uma história que tinha tudo para ter dado certo e ao mesmo tempo não tinha nada.
Texto de Iandê Albuquerque