Com o tempo nós vamos percebendo que nos pequenos detalhes estão as singularidades de cada pessoa com quem nós nos relacionamos na vida. Algumas pessoas passam, outras ficam. Algumas pessoas somam, outras somem. Muitas delas deixam um pouco de si, mas sempre levam um pouco de nós com elas também. Algumas dessas pessoas simplesmente não conseguem sentir a menor preocupação pelo outro e não sentem o mínimo de remorso por isso.
Egoísmo eu diria, mas eles preferem chamar de liberdade. Essas pessoas pouco sabem sobre o amor e sabem muito bem brincar com o coração alheio sem dor ou culpa. Apatia eu diria, eles preferem chamar de amor-próprio.
Quando passamos muito tempo num longo e doloroso hiato, a recuperar das dores provocadas por um corte profundo ou quando temos uma faca no peito cravada por alguém que julgámos ingenuamente um dia ter algum sentimento verdadeiro quando na verdade era apenas uma pessoa incapaz de se colocar no lugar do outro ou sentir o mínimo de empatia, fica cada vez mais difícil entregar-se a uma nova relação, pois começamos a conhecer a pior parte do ser humano e as suas peculiaridades.
Algumas pessoas são completamente indiferentes e, mesmo quando dizem que preferem a sorte e segurança de um amor tranquilo, na verdade não percebem quando ele chega, nem mesmo quando está bem à frente do seu nariz, abrindo-lhes um sorriso largo e convidando-as para viver, para serem felizes! Então porque tanta gente se nega a sentir? Simplesmente pelo facto de que é muito mais fácil viver na incerteza. Será que aquela pessoa gosta mesmo de mim?
A incerteza é que os motiva a buscar sempre o mais difícil, aquele que não se importa. É como um desafio e todo mundo gosta de um bom desafio. Quando encontram alguém que é tudo aquilo que elas pedem nos seus sonhos, o que elas fazem? Simplesmente não acreditam e fogem por achar que é impossível existir alguém assim, que se entrega completamente àquilo que acredita, então não aceitam o amor simplesmente por acreditar que não o merecem.
A verdade é que ninguém surge na nossa vida por acaso, se essa pessoa apareceu na tua vida, porque é que tu serias menos merecedor de viver isso plenamente? Aceita esse sentimento que tu achas que não mereces para poderes viver aquilo que tu mereces viver. Até Alice se atirou e no mínimo viveu uma aventura digna de uma boa história, que foi contada por gerações e gerações. Porque é que contigo seria diferente? Larga o medo, segue o coelho e joga-te no escuro. Ele pode ser o teu melhor caminho (ou não).
Se for um erro, transforma aquilo que aprendeste nos teus melhores acertos e cria a tua própria história, ela pode não ter glória, mas terá emoção! Ninguém vai adivinhar o teu pensamento e nessa falta de interesse tu podes acabar por perder alguém de valor, não esperes o outro desistir de tentar para perceberes isso. Então, não deixes passar quem se preocupa contigo e não dorme enquanto não te deseja boa noite, pelo simples facto de que sim, essa pessoa gosta de ti e não tem medo ou vergonha de demonstrar isso.
Num mundo de pessoas rasas, querer aprofundar-se em qualquer tipo de relação é insanidade mental, quase um crime! Invejo as pessoas que conseguem ser imunes à gentileza alheia, pois elas passarão sem nenhum arranhão pela vida. Eu que sou puro coração, passarei com feridas profundas e carregando um coração na mão, dando amor a quem quiser receber, porque é tanto sentimento que transborda em mim que me recuso a vivê-lo pela metade, sem me afogar na imensidão do outro.
Texto de Carla Rocha