Já não me lembro do teu perfume mas lembro-me que gostava de estar encostada a ti e sentir o teu cheiro. Já não me lembro de como é abraçar-te mas lembro-me que quando me abraçavas não queria estar em outro lugar. Lembro-me, porque nunca poderei esquecer, em como depois de um dia terrível, depois de uma discussão familiar, depois da primeira lágrima escorrer do meu olho, era por ti que eu procurava, era de ti que eu mais precisava. Ainda hoje, quando já se passaram dois pares de anos, procuro encontrar aquele conforto que me davas. Aquele encaixe perfeito que as tuas palavras tinham para me consolar. Ou, às vezes, o teu silêncio. Sim, porque o nosso silêncio nunca foi constrangedor ou incomodativo. Sabíamos exactamente o que o outro estava a pensar, sabíamos exactamente as palavras mudas que ecoavam. Sabíamos quando estar presentes e quando dar espaço. Havia uma base de conhecimento e de confiança que nos tornava perfeitos. Oh, como eu sinto falta dessa nossa sintonia! Mas… Éramos novos demais.
“Se calhar devíamos parar por aqui”, disse em tempos uma criança que não sabia lidar com o que sentia. Mal eu sabia que depois disso, eu ia mudar para sempre.
“Ok”, respondeu-lhe a outra criança. Mal tu sabias que mais tarde dirias que esse foi um dos maiores erros da tua vida.
Eu sei que o que tivemos foi amor. Foi amor muito tempo antes de começar e foi amor muito tempo depois de acabar. Não quero dizer que esse amor acabou, porque acho que o amor nunca acaba. Ele apenas foi transformado. Transformou-se numa lembrança. Tal como muita gente, prendi-me muitas vezes ao passado, na esperança que um dia recuperaríamos o tempo perdido. Prendi-me às memórias para reviver vezes sem conta o nosso amor na minha cabeça. Quebrei o orgulho, muitas vezes, para falar mais um dia contigo, para desabafar mais uma vez contigo, para sentir aquele conforto que só encontrava junto a ti.
Não me arrependo de nada. Porque por cada vez que te afastaste mais um pouco, por cada noite que eu chorei, por cada dia que eu esperei que terminasse, por cada segundo que eu esperei por ti, eu tornei-me mais fria. Tornei-me mais orgulhosa. Tornei-me mais mulher. Descobri o amor-próprio. Não foi de um dia para o outro, não foi fácil nem indolor. Achava que não seria capaz de amar outra vez. E durante muito tempo não amei. Hoje, eu amo. Hoje eu sei que toda a gente merece viver um amor como o nosso. Se não der certo, vai valer a pena na mesma. O nosso não deu certo, mas valeu a pena, porque hoje eu sou mais forte. Hoje, antes de todos, eu amo-me a mim. Hoje eu sei onde falhei e onde posso melhorar. E não guardo rancor. Não sinto qualquer raiva por ti e lembro-te com carinho. Porque o amor foi mesmo assim, foi perfeito enquanto durou, foi doloroso quando se perdeu mas foi uma lição quando o compreendi.
Não nos devemos arrepender por termos amado mais ou termos amado menos. Só não podemos amar mais ou menos. O que senti, perdeu-se. Tu mudaste. Eu mudei. Os anos fazem isso, a mágoa faz isso, a vida fez-nos isso. Porém, podes ficar a saber que mesmo estando tudo diferente, ainda tens um espacinho – mesmo que pequenino – dentro de mim.
Texto de BM