O colo de uma amiga
Aqueles dias em que só ela resolve. Há dias em que acordamos e não queremos a mãe, nem o namorado, nem um sapato novo, nem mesmo o Adam Levine. Há dias em que a única solução é uma delas por perto. Tu e elas.
Elas. Que colocam o dedo na ferida da alma e de imediato fazem o curativo. Que te julgam mas nunca te condenam. Que te apontam todos os teus erros mas logo de seguida desenham o mapa do caminho mais seguro. Que dizem que te vão matar se tu fizeres isso de novo mas tu fazes de novo e elas não te matam. Elas resgatam-te.
Elas, que são a nossa terapia sem precisar sequer de dizer alguma coisa, pelo simples facto de estarem lá, a partilhar as calorias, as frases decoradas dos filmes, as angústias secretas do nosso peito.
Elas. Que são omnipresentes, que mesmo não estando, estão. Que mesmo quando não nos podemos atirar para os seus braços, elas nos amparam. E que mesmo quando nós não conseguimos nem sequer falar, contar, lamentar, mesmo que elas não saibam de nada, o simples facto de pensar nelas já nos acalma.
Há dias em que o mundo parece injusto, que os dias parecem vazios, que as tecnologias parecem inúteis. Dias em que nós queremos que elas peguem no nosso cabelo, que digam que ele precisa de hidratar. Dias em que nós queremos segurar naquela mão tão conhecida, com verniz a lascar na ponta. Dias em que nós queremos o colo seguro de uma amiga.
Elas que não têm o colo acolhedor de mãe, nem o peito protector de um namorado, nem o poder de um sapato novo, nem o abdómen tatuado do Adam Levine. Mas elas são um oásis quando a vida parece difícil, um norte quando estamos sem rumo, um cais para onde podemos eternamente voltar. Elas, as únicas que discutem, apontam e julgam sem doer. Elas, que dão cor à vida nos dias cinzentos. Que adoçam o peito quando ele ameaça ficar amargo. Elas. Elas e mais nada.
Um texto de Ruth Manus, editado e
adaptado para português de Portugal.