Sou sempre o primeiro a acordar. Não por ser algo que sempre fiz, nunca fui um amante das manhãs e nunca tive vivacidade para dar e vender, mas porque me habituei e agora não consigo mudar. Faço-o para poder ser o primeiro, no mundo inteiro, a poder ver o teu sorriso quando acordas e poder olhar os teus olhos enquanto estes estão semicerrados e ainda lassos de mais uma noite de poucas horas de sono. Beijar-te pela manhã é como uma dose intensa de cafeína, desperta-me os sentidos, faz o meu coração bater mais rápido, dá-me adrenalina e vontade de enfrentar as próximas horas que irei estar afastado de ti.
Longe vai o tempo em que te conheci. De forma tosca, aproximei-me, depois de mil e uma invenções para contigo conversar, e tu sorriste quando eu perguntei as horas, mesmo depois de me olhares para o pulso e reparares que tinha relógio. Esse sorriso, tão simples e perfeito, com as curvas naturais que o mesmo revela quando os lábios dilatam num semicírculo de ternura e sedução, ficou para sempre na minha memória. Era esse sorriso que eu queria na minha vida, era dele que eu precisava para ser feliz. Lutei, não desisti e aproximei-me ainda mais.
Lembro-me de tudo como se tivesse voltado de lá agora e chegado a casa, esperando uma mensagem tua, recriando cada minuto e cada hora perto de ti. Tive tantos momentos e tantas oportunidades para avançar, para dar o primeiro passo, mas tinha medo e receava acima de tudo perder a tua amizade. Muitas vezes fiz sacrifícios pessoais para poder estar contigo. Disse não a amigos e familiares para poder ver-te e sentir o teu perfume, nem que fosse por breves segundos. Mas eles vão compreender, assim que estiverem na primeira fila da igreja e te virem chegar de branco, percorrendo o tapete vermelho que te levará até mim e onde ambos diremos que sim. Adoro ouvir-te falar, seja do que for, uma conversa sisuda ou uma imitação mal feita de alguém. Sei que no fim vou sentir os teus lábios a tocar nos meus ou o teu rosto avermelhado, de vergonha, por me ter rido da tua imitação. Abraço-te com força e faço-o como se fosse o último abraço que te vou dar, encostando a minha cara no teu cabelo castanho cor de mel, tendo-te perto de mim, como sempre sonhei ter.
Não faço ideia daquilo que me reserva o futuro, apenas que tu estás nele todos os dias e sei ainda que se conseguir fazer-te sentir por mim metade daquilo que sinto por ti, serei o homem mais feliz à face do planeta.
A noite cai e, agora, sou o último a dormir. A tranquilidade com que fechas os olhos e te enrolas tão perto de mim, numa paz que vem do interior e transparece no exterior, faz-me esquecer todos os problemas, todas as dores e todos os sacrifícios. Não sou rico nem almejo ser, mas sei que amanhã de manhã poderei voltar a ver o teu sorriso. E isso é o meu maior tesouro.
Texto de Jorge Andrês Correia