O tempo que não te quis.
Entre as piores tempestades e os piores períodos de seca, existe sempre um árvore que sobrevive. Ou uma planta. Ou alguém. Ou algo.
Assim como tu. Assim como eu. Como nós. Porque nós tivemos tempos em que não nos quisemos.
Ou melhor, em que eu não te quis.
Como é mau dizer desta forma, este desafogo psicológico.
Como peixes que se afogam ou plantas que morrem com excesso de água. Tu como lutadora, afogavas-me até dar o ultimo suspiro. Mas mesmo quando morria, continuava a afogar-me…
Em amor.
No mais puro amor.
Em tudo que tu conseguias dar. Sem nunca desistires. Sem nada em troca.
E carregavas o mundo às costas, por mim.
Por mim.
Por mim.
Por mim.
E só por mim.
E sem saberes, isso é que era o meu conforto. A minha posição satisfeita e confortável neste mundo. Contigo, sem saber.
Hoje carregas o mundo para ti, para o monstro que te tornaste e para os que te iludem. Só porque sim, cliché ou não, estás um monstro. Criado por mim. Mas não só. Estás fria, morta por dentro, sem rumo nem objetivos. Perdida num mundo que não é o teu. E apenas eu o posso dizer.
E eu podia dizer tanta coisa, escrever tanta coisa, dizer como te odeio pelo que me fizeste. Porque eu também sou um mostro. Criado por ti. Por todo o mal que me fizeste desde o inicio. Mas prefiro por opção não o fazer. Porque te amo. Porque te respeito.
No meio da fumaça e do álcool tenho-me perdido por sítios conhecidos, lamentando-me de ti. Lamentando-me do que podíamos ser. E aí entendo que sempre que te tento encontrar, acabo por me perder outra vez. Nunca te encontrei. Ou melhor, encontrei. Em mim. Porque tu estás comigo sempre. Apenas o corpo é que não. Ninguém te rouba de mim. Para isso tinham que ficar comigo também. Porque nós éramos um.
Somos um.
Sem eu saber.
Não permites diálogo comigo. Sem resposta nem chamada. Afastas-me porque sabes que estou sempre aqui.
Então isto é para ti.
Olá bebecas!
Anseio o momento em que queiras voltar e continuar a nossa história, como prometeste. De dor e de sofrimento. Mas de muito amor.
Porque nós nascemos para ficar juntos, por tudo o que ultrapassamos juntos. Que me ligues para falar, para me ouvires e que me digas para combinarmos um jantar os dois para me veres e corrigires o mal que estás a fazer. Mas sempre devagar. Para ver se funciona como sempre funcionou. E eu sei que sim. Anseio o momento em que o teu corpo se queira juntar à parte de ti que está comigo.
O momento em que me queiras dar um beijo e um abraço apertado.
Dar-me a mão e rir junto de mim. Espalharmos a nossa magia e provocar inveja em todo o mundo, como sempre.
De dormir um noite fria agarrada a mim.
Espero que esse dia chegue rápido, porque não aguento mais não ouvir a tua vocalização, não aguento que não me chateies o dia todo.
E quando esse dia chegar eu vou estar aqui…
Vou estar aqui para te mandar para junto daquele com quem me trocaste e que teve o teu corpo e não quis saber mais de ti. Vou estar aqui para vos mandar serem felizes para o grande caralho. Para o vosso mundo de merda, de aparência. E que morram por lá os dois juntos, atropelados por uma bicicleta. Por aqui, pelo amor primordial, acabado e morto por ti, vou estar com a pessoa que me suporta hoje. Porque Deus coloca as pessoas no momento certo.
E despedir-me-ei de ti assim:
Não sou segunda opção de ninguém. Hoje vou dormir contigo. Mas sem ti.
Amo-te. Mas amo-me mais a mim.
Texto de Ricardo Martins