Ela chegou num momento da tua vida em que as coisas estavam todas meio conturbadas. Tu encontraste-a numa dessas noites em que a gente não espera nada, dessas noites em que a gente sai de casa sem rumo. Entre um gole e outro; uma música e outra; uma sofrência e outra; tu viste-a. Ela parecia ser tudo aquilo que tu não estavas procurando porque nem sabias que precisavas. Ela prestes a ir embora e tu praticamente a acabar de chegar. Uns minutos a menos ou alguns segundos a mais, os teus olhares jamais se teriam cruzado com os dela.
Talvez tu não precisasses mesmo dela, mas assim que tu a viste, tu sabias que a querias. Entre um abraço ou dois, tu disseste que ias ligar. Ela preferiu não acreditar, muito menos esperar. No fim das contas, tu ligaste. Foi o início de dias e noites que passaram tão rápido que ela nem sentiu quando começou a gostar de ti um pouquinho mais do que o aceitável pelos padrões de relacionamentos atuais em que o “não te apegues demasiado” é a regra número 1 e também pelo medo de se envolver mais do que o necessário. Medo das duas partes que já estavam mais do que envolvidas.
Ela nunca te pediu nada. Ela não esperava nada e nem queria romance, mas também não queria ser só mais um lance. Ela não te pediu em namoro, nem em casamento. Ela não precisava de aliança, nem de fotos fofas ou mudança de status para alegria de pessoas que não vos conhecem, mas que adoram cuidar da vida alheia nas redes sociais. Ela só queria ter-te por perto sem precisar de um motivo, sem precisar implorar pela tua presença. Ela nunca esperou nada de ti além daquilo que tu poderias oferecer.
Mas pelos vistos, o pouco que ela esperava já era demais para ti. Ela estava sempre lá para ti, com um sorriso sincero, uma palavra amiga, uma piada na ponta da língua para tornar o teu dia mais feliz. Disposta a ouvir os teus problemas com um conselho pronto para te fazer sentir melhor ou pelo menos refletir. Ela era gente boa, até demais. É, talvez ela não fosse mesmo a mulher certa para ti. Azar o teu que não foste esperto o suficiente para perceberes que, na verdade, ela só queria estar contigo sem rótulos ou padrões, sem ter que deixar de ser ela mesma.
Tu não fazes ideia da mulher que estás a deixar partir. Tu perdeste a tua chance. A chance de viver bons momentos, a chance de dar boas risadas, a chance de ter uma amiga e companheira. Agora que tu resolveste desistir, ela também vai parar de insistir em alguém que está preso ao passado, que não consegue dar chance ao novo, que não consegue perceber que, às vezes, a felicidade vem dos lugares que a gente menos espera. Agora, pelo menos deixa-a seguir em frente. Não te preocupes, não vai ser difícil ela encontrar alguém melhor do que tu.
Ela não te pediu para ficares para sempre, ela nem sequer te pediu para ficares. Ela nunca te pediu nada e tu também não fizeste questão de ser mais do que um alguém que ela encontrou numa noite e que nunca mais ouviu falar. Tu não tinhas tempo para ela. Ela queria-te a ti. Tu não sabias o que querias, ela não tinha tempo para as tuas dúvidas. Parabéns, tu conseguiste estragar tudo!
Texto de Carla Rocha