Por onde andam as pessoas interessantes?
Depois de um longo relacionamento, vi-me a conhecer e a descartar pessoas, fiquei muito seletivo, não por procurar a perfeição, mas por falta de afinidade, por não estar disposto a cometer nem aceitar os mesmos erros. Decepções diversas, pensei em desistir, cansei de tentar. De tanto que a gente apanha, é difícil sentir tudo outra vez. Aposto que tu me entendes. Mas de uns meses para cá, parei para pensar por onde andam as pessoas que, como eu, procuram alguém interessante o suficiente para nos deixar mais à vontade. Alguém para acordar ao nosso lado com a cara marcada de lençol, que nos permita encostar o nosso rosto no seu ombro e que entenda que aquele gesto não é só um gesto de carinho, aquele gesto é uma cumplicidade de almas, uma ligação de vidas diferentes, um encontro de olhares, é uma poltrona para ver as estrelas sem sentir o tempo passar. Mas confesso que está cada vez mais difícil encontrar alguém assim. Alguém que saiba ser feliz também sozinho, que não se perca e não me perca, que não se perca dos seus próprios anseios, que não fique com medo das ondas, que tire os pés da areia e se entregue sem medo, que não seja superficial como tanta gente que encontrei.
As pessoas estão cada vez mais com preguiça de se dispor, de ter que voltar ao início e contar toda a história da sua vida de novo. As pessoas não dão e nem esperam mais respostas de ninguém, elas não suportam mais ter que responder a alguém que não seja um dos seus amigos. Não ligam, deixam para depois. As pessoas esquecem-se umas das outras com tamanha facilidade. Quando não se interessam mais dizem estar ocupadas, não prestam atenção, somem. As pessoas interessam-se pelas características que existem nas fotos das redes sociais, pelo que diz uma bio de quatro linhas sobre o outro. Fica fácil arriscar, mas fica mais fácil ainda desistir de tudo mesmo quando nem começou. As relações são instantâneas e os amores cada vez mais efémeros. “Eu amo-te” tornou-se bom dia. As pessoas namoram porque não querem manter-se solteiras por tanto tempo, ou por medo de ficarem sozinhas, por acharem que ir ao cinema acompanhado ou comer um gelado e conversar sobre séries é mais interessante quando se tem alguém, ou para fazer ciúmes ao ex, para mostrar que deu a volta por cima, que conseguiu envolver-se com outra pessoa (e muito provavelmente fez tudo isso porque não esqueceu o ex ainda), ou porque querem mudar o estado nas redes sociais, ou porque acham que ter alguém para preencher alguns espaços vazios é melhor que não ter ninguém. Namoram por qualquer coisa, menos por amor, e é justamente por isso que as relações hoje em dia não duram, dá “match” mas não dão em nada.
E eu não sei exatamente se o problema é meu, por me ter tornado o mais seletivo possível porque as pessoas que já passaram por mim me causaram alguma decepção, ou se está mesmo difícil encontrar alguém interessante no meio de tanta gente que se esquiva. Talvez o problema esteja exclusivamente em eu me desinteressar tão rapidamente quando alguém erra feio comigo, porque eu já não tenho mais paciência para admitir erros nem engolir defeitos. Mas, talvez, essa seletividade que eu tenho, também sirva para eu nunca me abandonar, para eu sempre me encontrar quando eu mais precisar e quem sabe, quando estiver bem comigo mesmo, encontrar alguém que me acolha, que esteja disposto a enfrentar todas as tempestades, que mergulhe nas mais profundas partes de mim, alguém cheio de imperfeições mas que não me abandone por conta das minhas, alguém que dê passos para a frente comigo, que desperte em mim vontade de ser e dar sempre o meu melhor.
Não sei se eu me tornei desinteressante ou se esse tanto de gente que passou por mim só serviu para me tornar mais exigente e maduro. Gostava de poder sair, num dia qualquer, e acabar por me esbarrar em quem fosse realmente interessante, inteiro e necessário para mim. Em alguém que me apresentasse novas loucuras e manias, e que não se afastasse de mim só porque eu não consegui agradar em algum momento. Alguém que fosse maduro o suficiente para entender que eu sou esquecido de vez em quando. Alguém que amadureça comigo, juntos. Que dispute para escolher qual filme assistir, que atire o travesseiro para me acordar, que não necessariamente me observe enquanto durmo, mas que algumas vezes, durma antes de mim e me deixe provar no silêncio das situações o gosto sincero de quando a gente se entrega sem pensar duas vezes.
Enquanto isso, eu continuo a dedicar-me a mim mesmo, ao meu trabalho e às viagens que pretendo fazer. Hoje, eu quero ser somente meu e de mais ninguém, e só saio daqui por alguém que seja capaz de me tirar do meu limbo e me faça sentir que, de facto, valerá a pena partilhar o meu tempo e ocupar a minha vida com alguém.
Texto de Iandê Albuquerque