Ela não sabe o preço da culpa que carrega calada por erros que nunca foram dela. Ir embora talvez tenha sido uma das melhores coisas que ele fez no tempo em que estiveram juntos. Ela martirizou-se durante algum tempo. Não conseguia aceitar. Procurava constantemente por respostas para as perguntas que a vida acabou por colocar à sua frente. Não comia direito. Não tinha vontade de ver ninguém. Aquela roupa que ela sempre amou, nunca mais quis vestir. O seu quarto escuro e as lágrimas, quando procurava nas redes sociais um motivo a mais para despedaçar o seu coração, eram as suas novas companhias.
O culpado: Ele.
Ele que quis atirar tudo para o chão. Ele que nunca soube direito o que queria da vida. Ele que nunca soube viver sozinho, e muito menos junto com uma pessoa tão incrível quanto ela.
Ele que sempre falou da boca para fora que a amava. Ele que sempre manteve outras prioridades à frente dela. Ele que mentiu quando se encontrava com a ex, enquanto ela remava o barco pelos dois.
O que faltava de amor dele por ela, sobrava nos amigos que ela conquistou no seu caminho. E foram neles que ela encontrou força para seguir em frente. A cada amanhecer ela sentia-se mais segura. A cada anoitecer um agradecimento de joelhos à beira da cama por nunca ter desistido de si mesma. A cada lembrança dele, um sorriso no rosto pelo amor próprio ter vencido mais uma vez.
E só uma palavra resume tudo: Obrigado.
Obrigado por a teres feito ver o quão grande é o mundo, e o quão pequenas são algumas pessoas. Obrigado por deixares que ela seja a passageira e a comandante do seu barco rumo à felicidade. Obrigado por lhe dares a oportunidade de esbarrar no destino de um outro alguém que irá chamá-la de “minha”, que irá conseguir ver o que ela tem de mais lindo e fazer tudo aquilo que tu não soubeste ou não quiseste.
Obrigado por mostrares a ela que é sempre possível recomeçar, de um jeito novo e muito melhor.
Ele procurou-a. Nos seus pensamentos e nas lembranças de dias melhores que ela sempre acreditou pelos dois. Nos carinhos e caras que ela fazia para mostrar que viver uma vida a dois exige intimidade e cumplicidade. Ele deu-se conta que lá fora tu encontras muitos amores, entre eles os que duram apenas um dia ou uma simples festa durante um fim‑de‑semana, mas nunca o amor que ele encontrou nela.
Ontem ele mandou-lhe uma mensagem a dizer que sentia falta dela. Ela sorriu, e apagou. Continuou em frente, sem vontade nenhuma de olhar para trás.
Desculpa-me, ou não.
Mas há coisas na vida que a gente só erra uma vez.
Texto de Fernando Suhet