Quem gosta de ti não te assombra, não pisa, não rasga nem te atira à cara que nunca foste ou nunca serás “alguém”.
Quem gosta de ti também não te facilita a vida quando te sentes corroído pelo medo de falhar.
Quem gosta de ti não desiste, não entende a palavra “basta” mesmo quando o bastar já encheu o copo.
Quem gosta de ti é firme, constante, envolve-te na sua vida, não a esbate, confirma-te que estás vivo ainda que às vezes aparentes deambular nas acentuações da estrada.
Quem gosta de ti crava-te no peito, arranca-te da tua monotonia, não permite que tu te sintas menos do que rei ou rainha de ti mesmo por mais que tu teimes em baixar a cabeça porque não és capaz de encarar ou aceitar tal dádiva.
Quem gosta de ti arranha-te a alma, marca-te, não pela força física, mas pela força daquilo que sente e que está desesperado por te transmitir.
Quem gosta de ti ouve-te, grita-te, sussurra-te, não só palavras doces, mas também os maiores horrores que te fazem acordar.
Quem gosta de ti respira-te, sufoca-te, sente-te e faz-te sentir, não esconde, não mente, não olha por cima do ombro nem com desdém, deseja-te, de tal forma que até as suas próprias emoções se começam a tornar incontroláveis, mas ele sabe, ele sabe que precisa de esperar, de tactear o terreno até que possa, por fim, avançar e se não poder fazê-lo permanece a teu lado, não te excluí, não tira de ti o que plantou, mas leva os restos que ficam daquilo que lhe ferve no peito.
Ainda que por vezes tu pareças louco, quem gosta de ti acompanha-te na tua loucura, não se preocupa com o que os outros vão pensar ou dizer.
Quem gosta de ti destrói-se para te ver feliz, arranca de si o que já não lhe deveria ser permitido entregar, mas fá-lo sem hesitar porque sabe que enquanto houver para dar não se pode permitir baixar os braços.
Quem gosta de ti não te pede para mudares mundos e fundos, porque nesse caso não gostaria de ti mas da carapaça que poderias vir a apresentar enquanto tentarias agradar a gregos e a troianos.
Quem gosta de ti, gosta de ti e pronto, não precisa de quês nem porquês, gosta e deixa-se gostar.
Texto de Ana Pereira