Hoje em dia as marcas traduzem-se em status social, e há ícones que revelam quem são as pessoas, mesmo que nunca se tenha falado com elas: os óculos, as roupas, os sapatos, a bolsa, o relógio, o telefone… Tratam-se de categorias de objetos que funcionam como uma apresentação e permitem posicionar a pessoa na escala social. É a clara definição do “quem tem o quê” porque isso revela “quem tem quanto”.
É difícil fugir desse padrão de comportamento – por muito que se deseje ou tente – e, em certos meios sociais, é quase impossível. Tornou-se um paradigma que permite reconhecer os outros pelo seu poder aquisitivo, pelo seu status social, bem ao modo materialista do mundo moderno.
Mas, na verdade, trata-se de uma falsa questão, porque o dinheiro, as marcas, as roupas e os objetos, são insuficientes para revelar quem são as pessoas. O que as separa – realmente – é a discrição, a educação, a generosidade e a distinção. E estes traços dividem, ainda que grosseiramente, as pessoas em dois grupos: os deselegantes, que se esforçam por aparecer a qualquer preço, e os elegantes, que primam pela discrição.
Os primeiros, os deselegantes, expõem a sua privacidade, invadem a esfera pública com as suas emoções exageradas e sentem necessidade constante de mostrar as etiquetas das suas roupas. Gostam de contar o que têm e falar do que compraram ou vão comprar. Citam muitas marcas e, com frequência, comentam-nas com a pronúncia errada. Givenchy é difícil para eles. Moschino também. E muitos nem sequer sabem o que é Fendi.
Mas o pior de tudo é o hábito de maltratar os outros – o porteiro, a manicure, o motorista, o empregado da loja, o garçom, ou qualquer pessoa que os sirva ou trabalhe para eles. São mal educados, grosseiros: não dizem obrigado, por favor, bom dia ou com licença. Esquecem-se que a forma de falar de uma pessoa diz mais sobre ela do que o seu vestuário.
Já os elegantes, são diferentes: não expõem marcas, não falam das suas jóias ou dos seus bens, e acham sempre que menos é mais. A discrição é a sua palavra chave, e neles tudo é comedido, sereno, sem exageros.
Ser elegante é algo que tem a ver com atitudes: está muito além de ter dinheiro. É, fundamentalmente, ter educação. E o melhor traço dos elegantes é o respeito pelo outro: são generosos, sorriem, são suaves, não insultam e nem maltratam ninguém.
Alguém elegante não se imita – porque não basta ter, tem que ser. Ser educado, ser reservado, ser generoso, ser simples, ser distinto. E ser é algo difícil de conseguir: faz parte de um refinamento adquirido ao longo de anos, e que se entranha na pele, tornando-se tão natural quanto respirar. Ser é uma caraterística que pertence à alma e não ao dinheiro.
Atualmente as pessoas definem-se cada vez mais pelo dinheiro: há os que têm e os que não têm. Esta é uma forma simplista de classificar o mundo pelos padrões de consumo e riqueza. Simplista e, paradoxalmente, pobre.
O que nos define é a forma como tratamos os outros, porque isso diz tudo de nós. Não é o que temos, mas o que sai de nós que revela quem somos.
Texto de Ivone Martins