Sossega, menina.
Calma, pára. Respira fundo. Eu sei que tu querias muito que desse certo, mas será que tu o conhecias assim tão bem? Eu entendo que foi incrível naquele dia em que vocês se encontraram, conversaram e comeram um gelado na esplanada do café, mas acho que é um pouco demais imaginar que dali para a frente, isso iria evoluir de acordo com tudo o que já planeaste no teu mundo paralelo que se chama imaginação. Acredita, eu sei exatamente tudo o que passou na tua cabeça no momento em que ele beijou a tua mão depois de te deixar em casa na terça à noite.
Mas depois, do nada, ele mudou, não é? E tu repassaste na tua cabeça todas as tuas palavras e acções da última semana na tentativa de descobrir o que fizeste de errado para ele não te procurar mais nem sequer na internet e nem te convidar para sair. Tu só o conheces há três semanas, mas estava tudo a dar tão certo que é um pouco irreal acreditar que, de uma hora para a outra, ele simplesmente perdeu o interesse em ti. Porque, até agora, ele gostava.
Será que o assustaste com essa forma intensa de gostar? Ou talvez ele não tenha gostado da forma como tu arranjaste o cabelo na última vez em que saíram… eu sei que tudo isso pairou pela tua cabeça, eu sei que sentes a maior pena e desgosto por ele simplesmente desaparecer, já que tudo parecia tão encaixado. Ele até gostava das mesmas bandas que tu tinhas vergonha de dizer para as outras pessoas que eras fã, menos para ele, porque ele parecia ser, de alguma forma, o “certo”.
Eu sei que é difícil, mas, por favor, pára. Não faças isso contigo. Não revivas cada segundo, cada acção tua à procura do que o fez afastar-se de repente. Acredita, eu sei como tu te sentes. E sei que ficas chateada e a brigar com as tuas expectativas por não conseguires alcançá-las. Mas não ponhas a culpa em quem tu és, pelo amor de Deus. Não é pela tua língua um pouco presa ou pela tua mania de enrolar infinitamente um cachinho do cabelo.
E também não te castigues por teres esse jeito de te entregar às coisas, de ser otimista. Isso não é defeito nem aqui nem na China! Não te vou contar essa história de “o que é teu está guardado” porque nem eu mesma acredito nisso. Mas se ele não quis ficar, acredita, ele não iria querer mesmo que tivesses feito tudo diferente, mesmo que tu não te tivesses sujado toda com o gelado de morango naquela tarde ou até mesmo se tivesse sido outra pessoa.
Alguém, que tu já conheceste ou ainda vais conhecer (e isso é o menos importante), vai-se encantar justamente pela forma exagerada como tu vês a vida, e vai querer construí-la junto contigo. Evoluir. Nem penses em te adaptar a alguém, porque entregar-se a alguém não é o problema. Entregar-se é viver, e sofrer faz parte, assim como ficar feliz e não se arrepender de uma vírgula do que se fez. Assumir todos os riscos é atitude de gente corajosa, algo raro nos dias de hoje.
Sossega o coração. E continua assim, com esse teu jeito de amar. Porque, com certeza, alguém vai chegar e amar-te assim mesmo, do teu jeito.
Texto de Amanda Souza