Trair é uma escolha, nunca é um deslize

A traição, no seu sentido mais amplo, não se limita à infidelidade entre casais. A traição pode ser também social, familiar, profissional ou até mesmo em relação aos nossos próprios ideais. Independentemente do estilo em que se apresenta, as marcas deixadas por ela são profundas e eternas.

Somos condicionados socialmente a sermos fiéis, e quando o assunto é relacionamentos, existe uma secreta constituição que rege todos os casais da terra: não trair em hipótese alguma.

Os traidores não precisam de motivos para trair. Os traidores precisam de oportunidades. Quem trai preocupa-se mais com as desculpas que dará para tentar justificar o erro do que com as consequências do ato (e olhe que, na categoria drama, o traidor deveria ser indicado a um Óscar).

Trair é toda e qualquer forma de ferir quem, um dia, confiou em alguém. As pessoas traem de tantas formas que, muitas vezes, nem temos consciência disso.

As pessoas traem quando esquecem de mimar o outro com pequenas gentilezas; as pessoas traem quando fingem que tudo está bem, quando, na verdade, não está. As pessoas traem quando negligenciam as vontades do outro apenas para seu próprio benefício.

As pessoas também traem a si mesmas quando deixam de ser protagonistas da sua própria vida, deixando os outros ditarem as regras. As pessoas traem pelos mais diversos motivos, mas como dizia Nietzsche, “quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez – a si próprio?”.

Trair não é um deslize de um momento, é uma opção. É uma escolha. É uma decisão. É preciso entender que ninguém trai por acaso. Da mesma forma que tu escolhes ser fiel, a traição nada mais é do que uma opção voluntária. A infidelidade não acontece por falta de amor, mas por falta de respeito.

“Quem é homem de bem não trai o amor que lhe quer seu bem. Quem diz muito que vai, não vai, assim como não vai, não vem. Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém.” (Vinicius de Moraes)

Por isso, aceitar uma traição é o mesmo que assinar um termo a abrir mão do próprio respeito e da própria dignidade. Florbela Espanca em Correspondência (1912) também mostrava a sua indignação perante a traição: “Eu julgo que a mulher verdadeiramente digna é aquela que repugna e não aceita uma traição, seja ela de que natureza for”.

A dor proveniente da traição é intensa porque nunca vem de um estranho. Vem sempre de alguém em quem confiamos. Vem de quem amamos e de quem permitimos total acesso aos nossos sentimentos.

Por isso é mais fácil conviver com inimigos, pois são verdadeiros na raiva: “Viva os meus inimigos! Eles, ao menos, não me podem trair.” (Henry de Montherlant)

Entende, meu caro, que onde há traição não pode haver amor. As relações são feitas para melhorar a vida e não para preencher vazios existenciais.

Cada indivíduo é livre para amar quem quiser e para alimentar relações tóxicas onde existe traição, se isso for a sua vontade, mas isso é tão necessário como comer sem ter fome.

Por: Pamela Camocardi

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