Tu não és o amor da minha vida
Tu juraste que ficarias. Mas eu sentia o fim.
Não foi a traição que nos separou, na verdade, ela só foi um empurrãozinho. O fim já nos tinha visitado antes disso. Traição é um ato desesperado, de quem sente urgência em acalmar a ausência de quem tinha o papel de estar presente, todos os dias.
Nós prometemos tentar. Por nós. Só mais uma vez. Mas não adiantou. O fim já tinha suspirado no pé do meu ouvido, sussurrou baixinho em sinal de alerta “estou a chegar”. O cérebro já estava processando a informação, o coração… coitadinho. Não entende nem quando desenhado. É que doía demais só de imaginar a tua partida.
Dei tempo ao tempo.
Tu foste embora. Confesso que não foi fácil a digestão, tive que engolir aos poucos e com ajuda de doses pequenas de amor próprio, fui me mentalizando que eu merecia muito mais. Eu merecia sorrir mais.
O teu nome na minha boca era um vício. É difícil desacostumar de algo ou alguém quando a gente já está acostumada. Eu tive que lidar com a angústia de lembrar de ti até quando eu não queria, e me auto convencer de que isso é uma das consequências do fim. O estrago estava feito.
Eu fiz força para te esquecer. Acredita. De maneiras mirabolantes e incansáveis. Eu só queria, desesperadamente, não ter que chorar cada vez que tocava a nossa música no rádio. Queria parar de arrumar desculpas esfarrapadas, só para achar um jeito de ter assunto para falar contigo. Queria ter tido coragem de ter batido a porta por completo, em vez de deixá-la entreaberta. Queria desatar todos os nós que nos afastavam e fazer deles um laço que nos aproximasse.
Quando eu te pedi para não me procurares mais, eu estava a pedir-te que tentasses convencer-me a ficar. Porque eu ficaria, se tu pedisses. Eu queria te mostrar que eu ainda era o amor da tua vida. Tu recuaste, da forma mais covarde e cruel. Eu não sabia que seria assim, mas tu decidiste fazer jus àquilo que eu achava que tu eras.
Mais uma vez, dei tempo ao tempo.
E finalmente o “tudo passa” chegou.
Eu não preciso disfarçar mais, toda a vez que tocam no teu nome perto de mim, eu realmente não me importo. De tanto que eu treinei não te amar mais, ainda que isso fosse insuportável ao início, eu consegui deixar de sentir algo por ti. Não dói mais. E que alívio. Levo-te apenas em algumas memórias despretensiosas que ficaram, com a certeza de que nós tentamos.
Fim. A porta fechou. Os nós viraram laços. Laços que agora enfeitam um novo amor.
Não adianta me procurares. Não adianta paralisares no tempo, enquanto observas o teu telefone, na esperança que ele toque. Eu não vou ligar-te. Talvez a gente se cruze em algum lugar bonito por aí, mas não falarei contigo. Nem sobre saudade. Talvez, sobre finais tristes que se transformam em começos felizes.
Eu não te culpo de nada. Sentimentos puros também acabam. Aquela sensação de que podíamos ter ficados juntos um pouco mais, também se foi.
Tu não és o amor da minha vida. Se fosses, nós não teríamos perdido tanto tempo a tentar que as coisas funcionassem. Teríamos perdido tempo, realmente funcionando.
Texto de Ana da Mata