Quando tu gostares de verdade de alguém, tu vais saber.
O que é que, afinal, define quando se gosta de alguém? Honestamente, não tenho mais idade para acreditar que irei ouvir sinos, que as minhas pernas vão involuntariamente levantar com o nosso beijo e que vou ficar entorpecido a pensar nele.
Cheguei à conclusão que me distanciei do meu ideal de estar apaixonado, entendes? Hoje eu tenho que ser centrado, sensato, correto. E, ainda por cima, rico e magro. De certa forma, também bastante covarde, já que não me imagino a fazer um terço do que já vi acontecer na “luta por um amor” da adolescência. Sinto-me cansado para isso, sabes? Não dá tempo, a sério. Quando eu penso em todo o processo: conhecer, apegar-se, terminar e superar, já me sinto exausto para viver o luto que ainda nem chegou.
Por que razão as coisas não podem ser mais fáceis? Do tipo, um dia, lá estou eu a pedalar na orla e a ouvir a minha música favorita, a olhar completamente distraído para as pessoas ao meu redor e a pensar em como eu gosto de comer churros. Tirando que eu nunca fiz esse tipo de passeio e, sinceramente, só sei andar de bicicleta em linha reta. No entanto, eu realmente gosto muito de churros.
Mas, vamos em frente: eu vejo a pessoa a correr, desequilibro-me (essa parte seria inteiramente verdade, diga-se de passagem) e ela viria ajudar-me e assim, como duas pessoas normais e disponíveis que o destino resolveu juntar, nós nos conheceríamos. E, logo depois, namoraríamos, noivaríamos, casaríamos e contaríamos para os nossos filhos o que aconteceu naquele dia em que eu quase caí. Só que pessoas normais não se conhecem desse jeito.
Mas que seria bem mais fácil assim, seria.
Então, o que me resta? Conhecer alguém na noite, através de amigos em comum ou apps de relacionamentos? Então vou morrer sozinho, tenho a certeza. A sério. Por quantas vezes mais tenho que passar por esse suplício?! Sinto-me como nos desenhos animados, eu pareço o Coiote na sua eterna busca fracassada pelo Papa-léguas. Alguém manda ele parar, por favor? Sempre torci para ele e senti uma dor no coração. Definitivamente, eu sou o Coiote do Amor (medo que essa expressão se torne uma música brega. Desculpa, mundo).
Mas a questão é: como saber com toda essa expectativa se o papa-léguas que eu persigo é, na realidade, o que eu preciso? Quer dizer, devem haver milhões de papa-léguas por aí, não é? E provavelmente nem todos vão tentar matar-me em alguma explosão. E, talvez, nem todos fujam de mim desse jeito. Talvez, alguns me deem uma chance sem que eu precise armar uma emboscada.
Sabes, nessas horas, eu aconselho parar e pensar, DE VERDADE. Entendermo-nos, enxergarmos o relacionamento como quem o visse de fora. O que tem valido a pena, o que não tem? O que tu deixaste passar por não achares significativo naquele momento, mas que poderia ter consequências futuras ainda piores? O que faz o teu coração palpitar: estar com aquela pessoa ou estar com outra?
Bom, a questão é que eu não sei se eu gosto daquela pessoa. Não sei se terei tempo de saber antes de a perder, mas eu sei que se for para as coisas se consolidarem, eu não vou precisar perdê-la para saber que ela é a tal, entendes? Nós não damos valor só quando perdemos, muitas vezes nós vemos o valor e ignorámo-lo. Quando perdemos é que nos sentimos corajosos o suficiente para nos arrependermos e voltarmos atrás. A questão é que nem tudo precisa ser um arrependimento, nem todo o relacionamento tem que começar da confusão, do transtorno, do medo. Eu acredito que as coisas podem surgir naturalmente, acredito que podem vir tranquilas com o único intuito de nos fazer bem. Acredito que, quando eu gostar mesmo de alguém, eu vou saber. É forte, e eu simplesmente saberei. Vem de dentro. Assim como eu sei que gosto de churros.
Que nem todo o gostar venha do choro, que nem todo o começo venha das cinzas. Que nem todas as promessas nasçam de mentiras, que nem todos os carinhos tenham segundas intenções. Que nem todo o amor cresça do conflito, que nem todo o casal se perca na dúvida. Que nem todo o relacionamento seja munido de inseguranças, que nem toda a paz no coração venha da pressa. Mas que, sobretudo, seja natural, sentido. Que seja amor, e não apego.
Texto de Samantha Silvany