A questão não é namorar ou não – é namorar com a pessoa certa

Tu perguntas-me por que razão eu não estou a namorar como quem tenta descobrir o meu defeito. Eu digo que não sou assim tão fácil, como quem responde “perfeccionista” quando lhe perguntam o seu maior defeito — não é mentira, mas também não é por isso. Eu podia colocar a culpa nas pessoas e dizer que é difícil comprometer-se hoje em dia. Eu podia colocar a culpa “nos tempos” e dizer que é difícil admirar alguém hoje em dia. Eu podia até fazer como aquelas pessoas que dizem “se tu não namoras é porque ninguém te quer” e ficar a redimir-me pelos cantos, mas nada disso seria sincero.

O que eu tenho pensado ultimamente e que me tem trazido alguma calma é que o amor é muito específico. Não é mesmo fácil encontrar amor sincero. Aparência, interesses comuns e vida profissional são apenas critérios genéricos. Se não fossem, a plataforma do amor seria a mesma que a da procura de emprego.

Não é assim que funciona. Pelo menos para mim. Eu sempre estranhei aquelas pessoas que conseguem arranjar um novo namoro pouco tempo depois de terem terminado um. Sai um, entra outro e fica tudo bem. Antes achava que essas pessoas tinham muita sorte. Hoje penso que talvez sejam mais flexíveis. Talvez valorizem mais a companhia do que a pessoa. Talvez gostem da estabilidade de ter alguém a seu lado. Adaptam-se melhor ao outro, enquanto que eu me prendo a detalhes.

Apaixonante para mim é uma pessoa que trata com educação até o empregado de mesa. Que me chama de uma maneira fofa. Que tem pensamentos bonitos. Que consegue desenrolar uma conversa agradável numa festa cheia de desconhecidos. Pode parecer loucura, mas para mim a paixão está intimamente ligada ao tom de voz e à qualidade da playlist. Gosto de quem me olha com inteligência, de quem me abraça com vontade, de quem não se expõe demasiado.

Toda a vez que eu vejo um casal feliz, imagino que eles sejam resultado de algum alinhamento cósmico super complicado. Se já é difícil amar alguém, imagina amar alguém que te ama de volta. Que também valoriza em ti o que mais ninguém percebe. Considero que é uma missão difícil fazer-se insubstituível na vida de alguém num mundo em que ninguém mais levanta a cabeça, tão entretidos que estamos com o visor do telefone.

Tal como me disse um amigo, a questão não é estar a namorar ou não: é estar a namorar com a pessoa certa. Enquanto a pessoa certa não chega, eu trabalho, saio, vou ao ginásio. Também tenho os meus momentos menos bons, mas faz parte. Preciso ter paciência para esperar o que mereço. Eu não namoro e a culpa não é minha. O amor é raro.

Texto de Sarah Westphal

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