Ainda te amo, mas não posso ficar mais contigo porque tu não me fazes bem.
O amor não é uma delicada flor que se colhe num lindo jardim e que logo deixa de ser perfeita, murcha e desfalece em poucos dias. O amor é semente que brota do fundo da terra. Germina, desabrocha e dura. Ele é a união indivisa de um com outro. E com o tempo, dá mais frutos deliciosos e sombra de paz para a nossa confusão.
É um sentimento que vira apreço concreto, cotidiano, diário.
É balsa que embala a tormenta do peito, é luz que ilumina o nosso caminho. E a gente se encontra mesmo estando perdido porque ele é a escada que faltava para a nossa subida. É vento que nos conduz em direção aos sonhos. Faz rir e perder o medo de fechar os olhos quando beijamos.
O amor mais do que companhia, é metade que nos leva a viver. É o abrir dos olhos ao amanhecer. Ele dá a mão sem pedir nada em troca. Dá asas à felicidade e faz pairar leve sob o céu brilhante da lua.
O amor não é sentimento que vai embora com a chegada das estrelas da noite que cai escura. Ele é difícil de ser arrancado do peito, porque cria raízes no coração. E chega um dia que o lenhador do amor aparece com o seu machado afiado martelando aquele afeto tridimensional que, até então, dava ritmo à respiração. Essa lâmina afiada pode ser uma mentira, a infidelidade, a indiferença, e até a bebida.
Nesse momento perde-se o ar, o chão. O lenhador tenta arrancar o amor pela raiz e levar junto com ele pedaços de um coração partido. Mas a vida é o cimento do amor, o amor é o oceano da Terra e ele não vai embora assim tão facilmente. Ele fica, permanece. E mesmo que aquela pessoa já não seja mais a mesma por quem os anos fizeram florescer um sentimento tão forte, ele simplesmente eterniza-se na nossa alma, pois criou um espaço que é só seu, e sempre será, mesmo que sobrem apenas lembranças que fazem a alma sorrir.
E apesar do amor latente e continuante, você olha e já não gosta mais. Então, é difícil saber se fica ou se vai, se acabou ou se há uma nova chance. É difícil pegar as malas e procurar por outras terras férteis para plantar a sua semente abrindo mão de toda essa unidade, você, o outro e o tempo, em troca de mais dias ou anos com um outro de onde brote novas raízes iniciando uma nova medida de tempo, juntos.
É difícil ver a praia se distanciando do barco rumo ao horizonte vazio. Perdidos de novo em meio a um vasto mar de solidão. Vem a vontade de voltar, de gostar novamente de quem se ama. Mas a gente não gosta mais. É medo, é carência, é melancolia.
Até que outra semente brota do fundo da terra. Se mistura e toma a antiga raiz. E, então, a gente lembra de onde partiu. Do que deixou. Sente saudades. E ama, por ter amado. Sorri, porque tem certeza que não gosta mais. E não há problema nisso porque um amor que de fato existiu, mesmo que passe, fica. Transforma-se em uma linda flor de ternura no jardim das nossas emoções. E, lá, embeleza sem a pretensão de gostar, porque o amor é semente que brota do fundo da terra. E mesmo que não se goste mais, tudo o que é sentido de forma tão forte, jamais será arrancado do coração e nem apagado da memória de quem um dia amou de verdade…
E, assim, ainda há amor nas minhas lembranças, só não gosto mais de você, então, onde estiver, fique bem.
Por: Luciano Cazz