Amar por dois é um suicídio lento e doloroso

O amor que eu dou, é o amor que eu espero receber…

O começo de um relacionamento sempre foi a parte mais complicada, pois assumir sentimentos não é para qualquer um. Embora algumas vezes aconteça uma reciprocidade mútua, muito se fala sobre a frieza de amores rasos.

A verdade é que eu gosto de mergulhar de cabeça, saltar em descontroladas piruetas, tirar os pés do chão, trocar a razão pela emoção. Eu imaginei uma casa, um cachorro e um gato, compras no supermercado, uma cama de casal, jantares à luz de velas e uma paixão avassaladora. Sim, eu esperava alguma ou qualquer coisa de ti. Quando nos desentendíamos, eu esperava que tu ficasses para resolver. Eu esperava que tu me puxasses de volta, que tu me pegasses com firmeza pelos braços e demonstrasses que estar ao meu lado era o que tu mais querias. Eu esperava que as nossas diferenças fossem resolvidas dentro de quatro paredes, não no meio da rua em público. Eu esperava poder contar contigo, ter o teu apoio e todos os teus sorrisos. Eu esperava o teu respeito, companheirismo e lealdade. Eu esperava um domingo chuvoso, sem fazer nada, e nós dois jogados no sofá. Eu esperava o teu abraço quando a minha vida não estava boa. Eu esperava atitudes de quem muito fala. E esse é o grande problema: tu não podes (ou não queres) dar-me nada, e isso torna tudo bastante doloroso.

Meu bem, eu não quero alguém que me motive a seguir em frente. Eu procuro um amor que entrelace, fortemente, os dedos nos meus e caminhe de mãos dadas comigo. Que não me largue no primeiro obstáculo, que não desista na bifurcação. Que me ajude a encontrar a melhor saída, que recomece quando houver necessidade. Que construa um futuro e molde o destino. Um amor que seja intenso, da cabeça aos pés. Tu tinhas-me, de corpo, alma e coração. Mas tu preferiste deixar-me ir embora. Eu fui tua por todo aquele tempo, determinado por ti. Eu fui tua no meu aniversário e também no Natal. Eu fui tua no verão e nos fogos de réveillon. Eu fui tua na Páscoa, nos feriados e nos finais de semana. Eu fui tua de segunda a sexta-feira. Tu tiveste-me todos os dias. Eu era tua até mesmo quando eu não queria. Ou quando tu eras de outra pessoa. Tu tinhas-me tanto, que quando escolheste me perder, eu obedeci às tuas ofensas.

Eu sinto uma pena de quem vai conhecer-me depois de ti, assim, desacreditada na alegria que o amor é capaz de causar. Tenho vontade de escrever num cartaz: “não entre, passou alguém por aqui e levou tudo”. Talvez eu tenha a consciência, em algum lugar no fundo dos meus traumas e medos, que o amor quase nunca dura. Aliás, que ele dura o prazo necessário para nos ensinar uma lição. E, dessa forma, devemos arranjar outros meios para seguirmos em frente, curar os machucados e tratar as cicatrizes evidentes. É preciso equilibrar-se na solidão e expressar uma cara boa. É que eu sempre vivi assim, mantendo uma distância confortável dos meus próprios fantasmas. Até agora, eu tinha jurado a mim mesma que estava contente sozinha, porque nenhuma relação valeu o risco. Mas eu não culpo o amor por isso, ele não tem nada a ver com os teus erros ou com as tuas faltas. Se o amor morreu sufocado ou afogado, se não tem mais jeito ou conserto, a minha única solução é superar o luto e cuidar da saudade.

Se tu precisares de mim, fica sabendo que eu continuo aqui. Continuo aqui porque eu me preocupo e me importo, porque o amor que eu senti e ainda sinto por ti é verdadeiro, e difícil de apagar. Mas o amor-próprio que entretanto cresceu em mim não vai permitir-me aceitar menos do que alguém completo ao meu lado. Só depende de ti querer ou não ser esse alguém.

Texto de Jéssica Pellegrini

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